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16 SET 2025

Uso de inteligência artificial predomina entre estudantes do ensino médio, mas carece de orientação nas escolas


Estadão - 16/9/2025 - [gif]


Autor: Isabela Moya
Assunto: TIC Educação

Sete em cada dez estudantes do ensino médio usuários de internet já utilizam ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa - como ChatGPT, Copilot e Gemini - para pesquisas escolares, mostra o novo estudo TIC Educação 2024 feito com mais de 7,4 mil alunos de escolas públicas e privadas de todo o País. Apesar do uso amplo da tecnologia, apenas um terço deles recebeu orientação nas escolas sobre como usar essas ferramentas.

Quando considerados estudantes do ensino fundamental, essa proporção reduz bastante, sugerindo que o uso da IA aumenta com a idade - assim como todas as demais ferramentas digitais. Entre alunos dos anos iniciais do fundamental (1º ao 5º ano), apenas 15% usam os chats para pesquisas escolares; nos anos finais (6º ao 9º ano), são 39%. No total dos alunos entrevistados, a média é de 37%.

A pesquisa revelou também que os estudantes usam vídeos publicados em redes sociais como fonte de informação. Pela primeira vez, esses canais e aplicativos - como TikTok e YouTube - são tão relevantes quanto navegadores de busca tradicionais - como o Google - para os alunos na realização de pesquisas escolares.

Isolando os estudantes do ensino médio, quase 9 em cada 10 deles assistem a esses vídeos para pesquisas escolares. É a mesma proporção dos que usam sites de busca.

Já ao ampliar para todos os anos escolares, a proporção fica próxima dos 70%.

As redes sociais - como Instagram -, por sua vez, são usadas por quase metade (46%) dos estudantes de todos os níveis escolares na hora de buscar informações para os trabalhos.

Livros digitais, site ou plataforma da escola e do governo são usados por 54%, 39% e 30% do total de alunos, respectivamente.

Com relação à orientação recebida pelos alunos nas escolas, metade (51%) conta que foi informada sobre quais sites devem ser usadas nas pesquisas escolares e 47% dizem que foi ensinado como verificar se uma informação ou notícia da internet é verdadeira.

No entanto, apenas um em cada cinco (19%) dos alunos do fundamental e do médio foram orientados especificamente sobre como usar IA em atividades da escola, conforme a pesquisa.

Daniela Costa, coordenadora da pesquisa, destaca que o uso dessas ferramentas pelos alunos carecem de mediação por parte de profissionais de educação. “É importante que os estudantes tenham acesso a essas tecnologias, mas de uma forma segura, crítica, criativa”, avalia.

Os números brasileiros vão na mesma direção de dados globais. Em países de alta renda, mais de 2/3 dos estudantes do ensino médio já usam ferramentas de IA generativa para produzir trabalhos escolares, de acordo com a Unesco.

Apesar disso, apenas 10% das escolas e universidades têm diretrizes oficiais para o uso da tecnologia, aponta uma pesquisa com 450 instituições realizada em 2023 pela agência da ONU voltada para educação.

Especialistas em educação dizem que o ministério e as secretarias de educação precisam elaborar diretrizes de governança que indiquem qual o melhor uso da IA, maximizando benefícios e mitigando riscos.

Também alertam para que o uso dessas tecnologias seja declarado abertamente, e não “escondido” como se fosse de autoria humana.

“Na minha visão, a IA afeta diretamente dois objetivos centrais da educação: desenvolver o pensamento crítico e a criatividade dos alunos. A IA generativa pode favorecer ou prejudicar esses dois objetivos, depende de como os educadores lidam com a tecnologia em sala de aula”, diz Dora Kaufman, professora da PUC-SP especializada nos impactos éticos e sociais da IA.

No âmbito do governo federal, o uso da IA tem sido detalhado por uma comissão bicameral no Conselho Nacional de Educação, a fim de produzir um relatório com orientações que deve ser concluído neste ano.

Formação docente

A pesquisa TIC Educação também entrevistou 3.280 profissionais de educação, entre professores, coordenadores e gestores de escolas. O resultado mostrou que pouco mais da metade (54%) dos professores participaram de atividades de desenvolvimento profissional em tecnologias digitais. Esse número diminuiu em relação a 2021, quando 65% dos profissionais informaram participação em alguma atividade do tipo.

A formação específica sobre IA em atividades educacionais foi citada por 59% dos professores.

A educação digital e midiática, por sua vez, foi citada pela grande maiores (89%) dos coordenadores pedagógicos, que dizem que suas instituições promoveram ao menos uma atividade, no último ano, sobre temas como cyberbullying, discurso de ódio e discriminação na internet, saúde mental e física, assédio, entre outros. Já temas ligados à inteligência artificial, algorítimos e rastro digital são menos abordados nas escolas.

Contudo, em 30% das escolas onde há atividades sobre educação digital, os temas são abordados apenas quando há necessidade, e em metade delas (49%), uma ou duas vezes ao ano.

“Ainda há um trabalho a ser feito com as escolas para que esses temas sejam de fato inseridos nos currículos das escolas e que essas atividades se tornem mais constantes e de fato efetivas”, afirma Costa, que coordena a pesquisa.

A pesquisa, que começou a ser feita em agosto de 2024, período anterior à aprovação da lei que restringe celulares nas escolas (válida a partir deste ano), indicou que já havia queda no uso de celulares pessoais nas escolas, de 55% em 2022 para 45% em 2024.

As escolas que proíbem o uso de dispositivos móveis, por sua vez, aumentaram de 28% em 2023 para 39% em 2024, mesmo antes de a lei entrar em vigor.

A partir da próxima edição do estudo, de 2025, o impacto da lei que proíbe amplamente o celular nas escolas poderá ser verificado.