NIC.br

Ir para o conteúdo
04 SET 2000

Teu nome me pertence






Arquivo do Clipping 2000

Veículo: Correio Web
Data: 04/09/2000
Assunto: domínios

Tem gente que registra domínios com nomes de profissões e até de cidades do Distrito Federal para vender ou alugar

Tatiane Freire

Assim como no mundo real, a Internet também está cheia de latifundiários. São empresas, muitas vezes apenas pessoas, que driblam as regras de registro e tornam-se proprietárias de dezenas de domínios na rede. Alguns, altamente comerciais, e outros com nomes conhecidos. Os interessados em usar estes domínios acabam tendo que pagar alguns milhares de reais. O negócio promete ser lucrativo. Para fazer o registro de um domínio, a Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) cobra R$ 50 de inscrição e mais uma anuidade no mesmo valor. O valor de venda chega a ser 400 vezes maior.

 Em Formosa, a empresa Domin registrou 50 domínios de nomes de cidades do Distrito Federal e de outros estados, entre eles ceilandia-df.com.br, taguatinga-df.com.br e guara-df.com.br . Para vender, cobra de R$ 2 mil a R$ 20 mil. "Como acontece com os direitos autorais, quem chega primeiro é dono, pode usar isso da maneira que quiser", afirma um dos proprietários, Joel Antônio Dezorzi. Desde março, a Domin já vendeu dez domínios. Já a Fastemail, de Taguatinga, se especializou e registrou cerca de 200 domínios apenas nas áreas médica e jurídica. Para vender, cobra de R$ 300 a R$ 3,5 mil.

O assessor de imprensa do Hospital Santa Lúcia, Ivan Marinovic, ficou surpreso ao receber a proposta de venda de domínios da Fastemail. "Achei muito esquisito, mas dei graças a Deus por já ter registrado o santalucia.com.br, senão teria que pagar uns R$ 3 mil", afirmou.

O administrador regional de Ceilândia, Antônio Roberto Santa Rosa, ressalta que negociar o domínio com o nome da cidade não é ilegal, mas condena a atitude da Domin. "O nome de uma cidade, de uma maneira ou de outra, é de propriedade do governo".

Apesar dos lucros exorbitantes, o negócio no Brasil não chega aos pés do que ocorre nos Estados Unidos. Devido ao número reduzido de extensões - praticamente existem apenas três para todos os americanos (.net, .com e .org) - não é raro encontrar domínios sendo vendidos na Internet por US$ 300 mil. Um dos mais caros, o business.com, foi vendido recentemente por US$ 7,5 milhões. Apenas no site GreatDomains, estão à venda 1,3 milhão de domínios.

Ao contrário do que acontece lá, os posseiros brasileiros preferem não especular com nomes de empresas já conhecidas porque a Justiça tem decidido contra os especuladores. Na briga da Rede Globo pelos domínios do Jornal Nacional e Globo Esporte, a Justiça baiana percebeu que a empresa ML Editora tentava ganhar dinheiro com os nomes e aplicou uma multa de R$ 1 milhão.

  "Depois desta decisão, o Comitê recebeu uma carta de um banco de domínios devolvendo todos que haviam sido registrados", afirma Raphael Mandarino, membro do Comitê Gestor da Internet e presidente da Associação Nacional de Usuários da Internet. Mesmo assim, por não serem tão caros quanto os domínios americanos, muitos empresários preferem pagar o valor pedido pelos "grileiros da Internet" a pensarem em um novo nome.

Foram para o Pau

Madonna
No mais recente caso em disputa nos tribunais americanos, a cantora reivindica o uso do Madonna.com, que atualmente está nas mãos do proprietário da Whitehouse.com, Dan Parisi. Ela diz que tem direito ao domínio pois é proprietária da marca Madonna. Parisi alega que existem mais de duzentas companhias nos Estados Unidos que usam Madonna no nome. A pendenga deve ser resolvida nos próximos dias pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO).

Comitê Olímpico Internacional
O maior processo contra uso indevido de domínios nos Estados Unidos é movido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que quer preservar o uso dos nomes olympic (olímpico) e olympiad (olimpíada). São 1.800 registros, que vão desde falsas associações aos jogos até venda de ingressos e serviços, passando ainda por apostas e até material pornográfico. Antes, o maior caso deste tipo reunia 250 acusados. A propósito, para quem se interessar, o www.olimpiadas.net está à venda: US$ 30 mil.

Rede Globo
Os domínios jornalnacional.com.br e globoesporte.com.br estavam sendo utilizados pelo empresário Marcelo Leal, da ML Editora, mas a justiça baiana considerou que Leal agia de má fé e aplicou-lhe multa de R$ 1 milhão. A Globo teve que brigar também em tribunais americanos para poder usar o redeglobo.com e o editoraglobo.com.

AOL
Não adiantou espernear. A provedora americana queria porque queria usar o aol.com.br, mas os tribunais brasileiros acabaram decidindo a favor da America On Line Telecomunicações, de Curitiba. Segundo a setença, a AOL não era conhecida ainda no Brasil em 1997, ano em que a homônima brasileira registrou o domínio.

Subdomínios: A bola da vez

Empresas investem na criação de portais para reunir home-pages de uma mesma categoria profissional ou ramo de negócios. Todos são colocados dentro de um mesmo domínio e pagam aluguel pelo "endereço privilegiado"

O país conta com uma nova categoria para tornar mais rentáveis os domínios. As empresas apostam agora no aluguel de subdomínios. Por exemplo, em vez de ter um endereço extenso como os encontrados em sites de hospedagem grátis, do tipo www.geocities.com/
SunsetBlvd/7847, a homepage de um nefrologista poderia ser www.nefrologista.com.br/drcarlos, se o referido Dr. Carlos alugasse por R$ 60,00 ao ano o subdomínio da Fastemail.

Os preços da Domin são bem mais inflacionados: R$ 100 por mês. A intenção, segundo o proprietário da empresa, é criar portais para cada cidade e agregar no domínio as homepages das empresas locais. Não há regras que proíbam o aluguel de subdomínios, mas o Comitê Gestor da Internet não vê a questão com muita simpatia. "Quem paga é bobo", dispara Raphael Mandarino.

No Brasil, entretanto, o órgão tenta desestimular estas práticas. Pouca gente conhece, mas existem no país 56 extensões para domínios específicos, que atendem desde farmácias até escolas de primeiro grau, passando ainda por profissionais, como cenógrafos, advogados, contadores e até biólogos. O registro para estes domínios só pode ser feito com comprovação de que a pessoa faz parte da categoria.

"A Internet no Brasil chegou mais tarde, mas tivemos tempo de evitar que alguns problemas acontecessem aqui", diz Mandarino, frisando que não há necessidade de se pagar dez vezes mais do que vale um domínio de extensão .COM, por existirem outras categorias em que a empresa ou a pessoa física podem se encaixar.

Para o proprietário da Domin, o grande número de extensões não vai atrapalhar o seu negócio. "Podem até ser criadas outras terminações, mas o .COM se consolidou e vai continuar dominando", analisa Joel Dezorzi.

Além disso, todos os domínios com nomes de empresas e marcas notórias cadastradas no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) são reservados para os proprietários. Mas o Comitê descarta que a reserva vá além disso. Segundo Mandarino, não há intenção de guardar domínios que tenham o nome patenteado no INPI em apenas uma área de atuação no mercado. "Não é porque uma pessoa tem uma fábrica de sabonete em um pequeno estado que ele deve ter domínio reservado na Internet".

Recentemente, algumas regras para registro também foram alteradas. Com a mudança, não é preciso mais que a pessoa tenha o número do IP (Internet Protocol) fornecido por um provedor para fazer o registro do domínio. Em fins práticos, isso significa que o interessado em um nome pode registrá-lo sem passar antes pela burocracia de provedores, que chegavam a cobrar R$ 50,00 somente para permitir o registro. "Também havia boatos de que alguns provedores passavam os domínios para outras empresas, que então revendiam para o interessado", aponta Mandarino.

O número máximo de registros por empresa ou pessoa física também tenta atrapalhar a vida de quem quer faturar com domínios. Desde o último dia 15, cada um pode registrar apenas dez domínios, com nomes e extensões diferentes. Mas muitas empresas fazem acordos com outras para poderem ir além desse limite.

Tipos de Domínios

Empresas e instituições
.AGR.BR (fazendas e empresas agrícolas),
.AM.BR (rádios AM),
.ART.BR (artes),
.BR (órgãos de pesquisa e faculdades),
.COM.BR (comércio),
.ESP.BR (esporte),
.FAR.BR (farmácias),
.FM.BR (rádios FM),
.G12.BR (escola de 1º e 2º grau),
.GOV.BR (governo),
.IMB.BR (imobiliárias),
.IND.BR (indústrias),
.INF.BR (empresas de informação),
.MIL.BR (Forças Armadas),
.NET.BR (empresas de telecomunicações),
.ORG.BR (ONGs),
.PSI.BR (provedores de Internet),
.REC.BR (recreação),
.SRV.BR (serviços),
.TMP.BR (eventos temporários),
.TUR.BR (turismo),
.TV.BR (TVs),
.ETC.BR (outras categorias).

Pessoas físicas

.NOM.BR

Profissionais liberais

.ADM.BR (administradores),
.ADV.BR (advogados),
.ARQ.BR (arquitetos),
.ATO.BR (atores);
.BIO.BR (biólogos),
.BMD.BR (biomédicos),
.CIM.BR (corretores);
.CNG.BR (cenógrafos),
.CNT.BR (contadores),
.ECN.BR (economistas),
.ENG.BR (engenheiros),
.ETI.BR (especialistas em tecnologia da informação),
.FND.BR (fonoaudiólogos),
.FOT.BR (fotógrafos),
.FST.BR (fisioterapeutas),
.GGF.BR (geógrafos),
.JOR.BR (jornalistas),
.LEL.BR (leiloeiros),
.MAT.BR (matemáticos),
.MED.BR (médicos),
.MUS.BR (músicos),
.NOT.BR (notários),
.NTR.BR (nutricionistas),
.ODO.BR (dentistas),
.PPG.BR (publicitários),
.PRO.BR (professores),
.PSC.BR (psicólogos),
.QSL.BR (rádio amadores),
.SLG.BR (sociólogos),
.TRD.BR (tradutores),
.VET.BR (veterinários),
.ZLG.BR (zoólogos).