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18 DEZ 2018

Pequenos provedores de internet ganham espaço nas capitais do país


Valor Econômico - 17/12/2018 - [gif]


Autor: Rodrigo Carro
Assunto: Indicadores

O avanço dos provedores regionais de acesso à internet não ficou restrito às cidades do interior do país, de menor interesse comercial para as grandes operadoras, mas chegou também às capitais. Na cidade do Rio de Janeiro, a fatia de mercado dos provedores de médio e pequeno porte mais que dobrou desde o início de 2015, somando quase 530 mil acessos (16% do mercado local). Na capital paulista, o total de conexões de banda larga fixa oferecido pelos pequenos e médios aumentou 151% ao longo do mesmo período.

Só na comunidade carente da Rocinha, no Rio, há pelo menos 25 provedores de acesso à internet, estima Samuel Silva, fundador da Net Rocinha. Criada em 2006 e regularizada em 2011, a empresa fornece serviço de banda larga fixa para cerca de 2 mil clientes, a maior parte residente na comunidade, a maior do Brasil segundo dados do Censo 2010.

"A política das operadoras é não entrar em área de risco", afirma Silva, de 35 anos, acrescentando que apenas uma grande prestadora de serviços de telecomunicações atua na Rocinha. Para explorar esse filão, Silva instalou aproximadamente 15 quilômetros de backbone - rede principal de alta capacidade e alta velocidade.

Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) compilados pela Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) indicam que o Net Rocinha está longe de ser um exemplo isolado: 53,5% dos pontos de acesso via fibra óptica no Rio são de empresas regionais.

O percentual registrado na capital fluminense não difere significativamente da média nacional. "Metade das conexões de fibra óptica no país está na rede dos provedores regionais", diz Basílio Perez, presidente da Abrint. Em outubro, havia 5,19 milhões de conexões de banda larga fixa no país baseadas na tecnologia de fibra óptica. "A tecnologia da fibra óptica ficou muito mais barata", acrescenta.

Levantamento divulgado esta semana pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br) mostra que no ano passado 78% dos provedores de internet no país disponibilizavam conexões de banda larga, ante um percentual de 49% registrado pela pesquisa realizada em 2014.

Nos últimos anos, os provedores de pequeno e médio porte vêm ditando o ritmo de expansão do serviço de banda larga no país. No fim de 2015, esse grupo de empresas detinha uma fatia de 14,06% do mercado de banda larga fixa, de acordo com dados da consultoria Teleco. Quase três anos depois, em outubro deste ano, essa participação já estava em 25,3%.

A movimentação vem atraindo a atenção de investidores. "Fundos de investimento estão financiando participantes locais para expandir e modernizar suas redes, bem como desenvolver novos serviços além da conectividade, como data center e [computação em] nuvem", afirma Carina Gonçalves, consultora sênior da Frost & Sullivan. "Alguns participantes locais cresceram o suficiente para fornecer conectividade inteiramente com sua própria rede, especialmente em locais mal atendidos ou não cobertos pelas incumbentes [concessionárias] e outros participantes."

Em São Paulo, o potencial de mercado inexplorado na localidade de Morro Doce, no bairro de Jardim Santa Fé, na zona oeste, levou Wilson Montenegro Viana e mais três sócios a criarem em março deste ano o provedor Fiber Banda Larga. Antes de abrir o próprio negócio, Viana trabalhou por dez anos na área de instalação de duas empresas de TV por assinatura. "Não conhecíamos a região [do Morro Doce], mas fizemos uma pesquisa de mercado e constatamos que havia muita gente insatisfeita com o serviço da única operadora disponível", conta.

A Fiber Banda Larga atende mil clientes na localidade com velocidades de 30 a 100 Megabits por segundo (Mbps). A empresa compra capacidade no atacado diretamente da multinacional China Telecom e vende no varejo para os habitantes da região, que tem população estimada em cerca de 65 mil habitantes. A demanda aquecida fez a operadora rever seu plano de negócios original, que previa uma rede com capacidade para atender até 3,2 mil clientes.

A versão atualizada inclui uma expansão da rede óptica de 50 km para 70 km a partir de janeiro, o que permitiria o atendimento de até 7 mil clientes. Além de expandir a rede, o objetivo é oferecer um acesso à internet mais veloz. "Já estamos testando a velocidade de 120 megabits por segundo", diz Viana. A ideia é oferecer aos usuários que já contrataram o pacote de 100 Mbps migração sem custo para a velocidade mais alta.

De acordo com o CGI.br, o total de provedores de acesso à internet ativos no país saltou de 4.204 para 6.618 entre 2014 e 2017 - um aumento de 57%.