NIC.br

Ir para o conteúdo
02 MAR 2018

Não faça você mesmo


Folha de Londrina - 02/03/2018 - [gif]


Autor: Simoni Saris
Assunto: Segurança na Internet

Navegando pela infinidade de sites disponíveis é possível "aprender" a fazer tudo; porém, sem amparo, preparo e bom senso, o resultado pode ser um desastre

Daquela internet lenta e discada do início da década de 1990 até as conexões de banda larga, rápidas e móveis, muita coisa mudou na rede. Do uso quase restrito ao envio e recebimento de e-mails, a internet deu um enorme salto e hoje quem tem acesso a ela tem acesso a todo tipo de informação e serviços. Navegando pela infinidade de sites disponíveis encontra-se de tudo. É possível aprender a preparar desde uma simples panqueca até receber aulas de como construir uma casa. O conteúdo está lá, disponível e gratuito, o problema é o uso que algumas pessoas fazem dele. Sem amparo, preparo e bom senso, o resultado pode ser um desastre.

No início de janeiro, uma adolescente de 14 anos de Londrina mostrou, na prática, o que a informação utilizada sem discernimento pode fazer. Instruída por um tutorial que ensinava a dirigir, a garota pegou o carro da empresa dos pais para testar a eficácia das orientações. Ela nunca havia dirigido antes, mas com o celular à vista, foi seguindo o passo a passo. Conseguiu tirar o carro da garagem, saiu pela rua, mas ao dobrar a primeira esquina bateu na traseira de um veículo. O carro que conduzia "morreu" e, sem saber como proceder, recorreu a um site de buscas para aprender a engatar a marcha à ré. Deixou o local do acidente e seguiu de volta para casa. Nervosa e desorientada, não conseguiu entrar com o carro na garagem e bateu no muro, destruindo boa parte dele.

O carro que a adolescente dirigia teve perda total. Fora o dano irreparável no veículo, a experiência resultou em um prejuízo de outros R$ 12 mil e em punições aplicadas pela mãe, que cancelou o presente e a festa de 15 anos que iria acontecer em abril e aumentou as responsabilidades da filha com as tarefas domésticas. O acesso da adolescente ao celular também foi limitado. "Ela é uma ótima filha, nunca me deu trabalho. Na escola, só tira nota dez. Por dois anos seguidos foi considerada a melhor aluna do colégio. Estuda de manhã e trabalha à tarde, como menor aprendiz, no salão da irmã mais velha. Só estava em casa naquela hora porque em janeiro está de férias do salão. Nunca esperava que fosse capaz de uma coisa dessas. Estou muito desapontada com a atitude dela", relata a empresária mãe da adolescente.

Depois do ocorrido, a empresária defende a restrição do acesso a esse tipo de conteúdo por menores de idade. "Isso não pode existir. É um perigo. E se minha filha tivesse matado alguém? Eu é que iria responder pela morte. Ela também poderia ter se machucado porque estava sem cinto de segurança e bateu a cabeça no volante", preocupa-se a mãe. "Da mesma forma que eu passei por isso, tenho certeza de que tem muitos pais no País que passam pela mesma situação. Deveria ter uma chave, um bloqueio proibindo o acesso. Imagina se essa moda pega?"

Recursos de segurança e diálogo são importantes

O NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) produz guias educativos sobre o uso seguro e responsável da internet para diversos públicos, como crianças, adolescentes, pessoas acima de 60 anos de idade e pais, responsáveis e educadores. Os guias estão disponíveis gratuitamente para download no endereço http://internetsegura.br/.

As orientações ajudam os internautas a se protegerem de pessoas mal intencionadas e a se precaverem de problemas como invasão de privacidade e cyberbullying. No guia direcionado aos pais, responsáveis e educadores, a orientação do Nic.br é utilizar o controle parental como proteção adicional, restringindo o acesso de crianças e adolescentes a determinados conteúdos.

O controle parental é um conjunto de recursos de segurança disponível em diversos sistemas operacionais, sites e equipamentos, como roteadores e consoles de jogos, e pode ser instalado por meio de aplicativos pagos ou gratuitos. Em sites de busca na internet há muita informação disponível sobre o controle parental e serviços disponíveis.

Mas o NIC.br ressalta que nem sempre é possível controlar o conteúdo acessado em dispositivos na escola ou casa dos amigos e, por isso, a dica é conversar constantemente com a criança ou adolescente para ajudá-los a reconhecer e evitar situações de risco.

'Ela falou que eu poderia ter ficado careca'
A bibliotecária Emanuele de Oliveira também teve uma experiência mal sucedida ao seguir um tutorial na internet. Há cerca de dois anos, ela tentou mudar a cor dos cabelos em casa motivada por um vídeo que ensinava a clarear os fios. Morena de nascença, achava lindo o visual platinado da personagem vivida pela atriz Flávia Alessandra em uma novela que era exibida na época e decidiu tentar. "O vídeo era de um cabeleireiro que dizia que dava para fazer a mudança da cor do cabelo em casa e ficar com o cabelo da moda sem gastar muito dinheiro. Tinha depoimentos de várias pessoas dizendo que haviam feito o procedimento e tinha dado certo. Vendo o vídeo parecia bem simples. Mas acho que não era um cabeleireiro sério, se fosse teria orientado a procurar um profissional. O barato saiu caro", reconhece Oliveira.

Conforme as instruções do tutorial, ela comprou todo os produtos indicados por cerca de R$ 50. Passou uma mistura de pó descolorante e água oxigenada nos cabelos e logo percebeu que alguma coisa não ia bem. "Eu deixei um pouco mais de tempo que o recomendado e a minha cabeça começou a esquentar. Meu cabelo ficou elástico, começou a sair uns tufos. A cor ficou horrível, alaranjada, um loiro horroroso e, para tentar consertar, ainda passei a tintura por cima mesmo com a minha mãe me alertando para não fazer. Eu fui teimosa", conta a bibliotecária.

Por insistência da mãe, Oliveira concordou em procurar uma cabeleireira que pudesse consertar o estrago. "Tive que escurecer o cabelo e cortar bastante. Minha cabeleireira disse que eu não deveria ter feito porque meu cabelo é castanho médio e não teria como eu ficar platinada. Ela disse também que se eu tivesse procurado um profissional de confiança, ele teria me alertado que não seria possível ficar com a cor que eu queria mesmo utilizando produtos de boa qualidade. Ela falou que eu poderia ter ficado careca."

Oliveira esperou um ano até que os cabelos se recuperassem dos danos provocados pela experiência caseira e calcula que tenha gastado cerca de R$ 400 em produtos e tratamentos. "Acho que deveria ter um controle maior sobre esses conteúdos na internet porque é uma coisa tão perigosa e que vai mexer com a beleza e a autoestima da pessoa. A pessoa não é cabeleireira, mas vai mesmo no embalo. Não tinha nenhum alerta sobre os riscos", defende. "Tem coisa na internet que funciona, mas tem coisa que não dá para seguir."

PESSOAS ESPECIALIZADAS
No ano passado, o eletricista automotivo Ariovaldo Barra Rosa de Oliveira teve um problema com a bomba de óleo do veículo dele e, como trabalha na área, decidiu procurar na internet um tutorial que pudesse ajudá-lo a fazer o reparo por conta própria. No vídeo que encontrou, o instrutor orientava a remover o cabeçote do motor, as correias, o alternador, o câmbio e retirar todo o gás do ar-condicionado para evitar explosões. "Achei estranho ter que fazer tudo isso para retirar a bomba de óleo e decidi perguntar a um amigo mecânico. Descobri que não era nada daquilo. Era só afrouxar uns 15 parafusos e usar um macaco para ter acesso à bomba", explicou ele.

Se tivesse seguido o tutorial, o eletricista calcula que além de não resolver o problema, teria tido um prejuízo de cerca de R$ 3 mil. "Não sei se aquele tutorial era sério ou se era uma maldade para prejudicar as pessoas. Eu duvidei das informações, mas tem gente que acredita e faz", comentou. "Eu mesmo já recebi muita gente que tentou mexer sozinho, olhando na internet, e depois trouxe o carro aqui para eu resolver", disse. "Eu costumo olhar na internet também, mas para algumas coisas tem que ter o mínimo de noção. Tem muito tutorial bom, de pessoas especializadas. Os fabricantes de autopeças mesmo dão dicas e fazem tutoriais. É preciso seguir os tutoriais de pessoas confiáveis", ensina.