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17 JUL 2019

Maioria dos professores usa o próprio plano de dados para fazer atividades digitais em aula


O Globo - 16/7/2019 - [gif]


Autor: Elisa Martins
Assunto: TIC Educação 2018

Mais da metade dos docentes da rede pública usa celular para ensinar os alunos, mas não contam com infraestrutura de internet nas escolas, diz estudo

SÃO PAULO - A maioria dos professores de escolas públicas e privadas do Brasil usa seu plano de conexão com a internet para desenvolver atividades em sala de aula e busca por conta própria formação e fontes de aprendizado em tecnologias e novos recursos para o ensino.

As conclusões fazem parte da pesquisa TIC Educação 2018 , feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) e divulgada nesta terça-feira.

O estudo avaliou o uso das tecnologias na educação brasileira com base em mais de 15 mil entrevistas com alunos, professores, coordenadores pedagógicos e diretores de escolas urbanas públicas e privadas e escolas localizadas em áreas rurais do Brasil.

Segundo a pesquisa, 76% dos docentes usaram a internet para desenvolver ou melhorar seus conhecimentos sobre o uso de tecnologias para o ensino.

O estudo indica que 58% dos professores de escolas públicas urbanas utilizam o celular em atividades com os alunos — mas 51% deles usam a própria rede de internet 3G e 4G para isso. No caso das escolas particulares, o índice foi de 44%.

Apenas 25% dos professores das escolas públicas e 31% das privadas utilizaram o wifi das escolas.

Já no caso dos alunos, 27% deles (em ambas as redes) utilizaram o pacote de dados dos próprios celulares. Apenas 7% dos alunos de escolas públicas usaram o wifi da escola; o índice subiu para 20% nas privadas.

Nas escolas rurais, 52% dos responsáveis por escolas rurais afirmam que os professores levam os próprios dispositivos para desenvolver atividades com os alunos.

Nessas escolas, a presença de computadores caiu: em 2018, 43% das escolas rurais possuíam computadores de mesa e 30%, portáteis; em 2017, eram 50% e 34%, respectivamente.

— Nosso objetivo era compreender o que acontece nas escolas brasileiras em adoção de novas tecnologias digitais, seja como instrumento pedagógico ou de gestão escolar — afirma Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br. — É aí que as políticas públicas encontram seu desafio, porque a tecnologia é aliada em todos os campos de conhecimento.

Sem apoio para formação digital

Outro ponto de entrave, mostra a pesquisa, diz respeito aos cursos de formação e aprimoramento dos professores.

De acordo com a TIC Educação, 90% dos professores (92% de escolas públicas e 86% de particulares) afirmaram ter buscado se informar sozinhos sobre novas tecnologias e recursos para o ensino.

A busca por vídeos e tutoriais online cresceu: passou de 59% em 2015 para 75% em 2018, com percentuais semelhantes entre professores que lecionam em escolas públicas e particulares.

No momento de realização da pesquisa — entre agosto e dezembro do ano passado —, 30% dos professores das escolas privadas e 21% dos das públicas participavam de algum programa de formação sobre o uso de tecnologias na aprendizagem.

— Há interesse dos professores pelo tema, e eles têm buscado mais por esse tema na internet, em vídeos, e também com colegas. Mas ainda falta um aprimoramento das oportunidades de formação estruturada para os professores — diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa TIC Educação.

O gargalo acontece desde a formação universitária dos docentes: 64% dos professores de até 30 anos participaram de cursos, debates ou palestras promovidos pela faculdade sobre o uso de tecnologias em atividades de ensino e aprendizagem. O índice cai para 54% em professores de 31 a 45 anos e para 42% no caso de docentes com mais de 46 anos.

Entraves para Enem digital

A expansão das tecnologias nas escolas é tida como crucial para levar adiante iniciativas como a do Enem Digital . Recentemente, o Ministério da Educação anunciou que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será totalmente digital até 2026.

— A iniciativa é importante, mas as condições de infraestrutura precisam ser avaliadas. De modo geral, os alunos transitam bem no uso de recursos digitais dessa natureza, seja para estudo, entretenimento ou comunicação. Não acho que há grandes dificuldades do ponto de vista dos alunos. A possível dificuldade reside em infraestrutura tecnológica nos pontos de acesso para que esse processo se realize — diz Leila Iannone, coordenadora científica da pesquisa TIC Educação.

Segundo a especialista, será preciso passar por um momento de transição, natural considerando um exame da envergadura do  Enem , e um país de grande dimensão e recursos díspares, como o Brasil. Mas é um processo inevitável, diz Leila:

— É um avanço em relação ao preenchimento digital. Poderia economizar recursos, dar velocidade aos processos de correção e devolutiva e ainda oportunidade para uma avaliação secundária de como os alunos se saem no uso das tecnologias digitais. Espera-se que, à medida que se faz essa transição, as escolas estejam supostamente desenvolvendo as competências digitais de seus alunos.

Bullying e uso seguro da internet

O estudo TIC Educação 2018 abordou, também, a presença de questões como bullying , discriminação , assédio e disseminação de imagens sem consentimento nas escolas, e sua relação com o uso das novas tecnologias. Do lado discente, apenas 44% dos alunos de escolas públicas e 68% de escolas particulares receberam alguma orientação para o uso seguro da internet.

E 33% dos alunos de escolas públicas e 59% dos de escolas privadas afirmaram que os professores comentaram sobre o que fazer se alguma coisa os incomodava na internet.

— Os dados mostram que esse tema tem estado mais presente, porque os próprios alunos têm levado essas questões para dentro da escola. Na pesquisa, isso também ganha importância justamente pela questão dos alunos e pela preocupação de professores e gestores escolares com a proteção das crianças e da disseminação de melhores formas de uso das tecnologias, mais respeitosas — diz Daniela.