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28 SET 2009

Há 40 anos, surgia a Arpanet, o embrião da internet






O Globo Digital - 28/09/2009 - [ gif ]
Autor: André Machado
Assunto: Internet

Apenas LO. Estas duas simples letras marcaram o começo de uma era há quase 40 anos: exatamente às dez e meia da noite do dia 29 de outubro de 1969, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. O estudante de computação Charley Kline e seu professor Leonard Kleinrock planejaram enviar a palavra "login" de seu computador para o computador do Instituto de Pesquisa de Stanford, mas, durante o envio, a máquina "deu pau" e eles só conseguiram enviar a sílaba "lo". Uma hora depois, resolvido o problema, enviaram a palavra toda. Assim nasceu a Arpanet, o embrião da internet. Muita água rolou embaixo do navegador desde então, mas aquele certamente foi um dia histórico para os amantes da tecnologia. Apenas LO. Estas duas simples letras marcaram o começo de uma era há quase 40 anos: exatamente às dez e meia da noite do dia 29 de outubro de 1969, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. O estudante de computação Charley Kline e seu professor Leonard Kleinrock planejaram enviar a palavra "login" de seu computador para o computador do Instituto de Pesquisa de Stanford, mas, durante o envio, a máquina "deu pau" e eles só conseguiram enviar a sílaba "lo". Uma hora depois, resolvido o problema, enviaram a palavra toda. Assim nasceu a Arpanet, o embrião da internet. Muita água rolou embaixo do navegador desde então, mas aquele certamente foi um dia histórico para os amantes da tecnologia.

Na verdade, digamos que essa fase pré-internet foi um fruto indireto da paranoia americana durante a Guerra Fria. O lançamento do primeiro satélite orbital terrestre, o Sputnik, pelos soviéticos, em 1957, gerou uma resposta sem delongas pelos Estados Unidos com a fundação da Darpa (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa, na sigla em inglês), em fevereiro de 1958. A ideia era justamente se concentrar na confecção de projetos de tecnologia de última geração e evitar surpresas desagradáveis como a do satélite soviético.

Quatro anos depois, em 1962, começaram as discussões para criar uma rede de computadores cujos usuários pudessem se comunicar entre si. Hoje em dia, tudo é movido a troca (chaveamento) de pacotes de dados - até mesmo no caso da voz (vide Skype e cia). Mas, na época, essa tecnologia (em inglês, "packet switching") era bem nova. Até então, o conceito de troca de informações era o da linha telefônica, com uma pessoa em cada ponta da ligação; mas o conceito de troca de pacotes permitiria a um computador falar com vários ao mesmo tempo.

O conceito inicial da internet pareceu uma coisa de "Jornada nas Estrelas" antes mesmo de "Jornada nas Estrelas" estrear na TV. É que, ao se iniciarem as discussões sobre a futura rede, o cientista Joseph Licklider, então na Darpa, enviou uma série de memorandos descrevendo como seria a comunicação, falando sobre uma possível "Intergalactic Computer Network". O texto de um desses memorandos, antevendo o que seria a internet, pode ser lido (em inglês) no link http://bit.ly/zW5cM .

Licklider convenceu os pesquisadores da agência de que seu conceito de comunicações numa rede de computadores era importante. O diretor da divisão de processamento, Robert Taylor (que depois seria um dos fundadores do lendário laboratório Parc, da Xerox), refletiu sobre o tema e, mais tarde, recordando a época, comentou que tinha três computadores diferentes em seu escritório, cada um com uma configuração específica. Um servia para falar com o MIT, outro para com a Universidade da Califórnia e o terceiro entrava em contato com uma firma de software (a SDC, aliás uma das primeiras empresas de software de que se tem notícia).

- Eu tinha que trocar de terminal toda vez que queria falar com um dos três, e pensei: cara, é óbvio o que você deve fazer: criar um terminal só, que vá aonde você quer ir - lembrou Taylor. - Essa ideia era a Arpanet.

Demi Getschko, presidente do NIC.Br e considerado um dos pais da internet no Brasil, lembra que a rede americana foi só o começo.

- Você pode, sim, rastrear o DNA da internet dentro da Arpanet, mas ela ainda não era internet, porque usava outros protocolos - lembra. - Nem a palavra "internet" existia em 1969; veio depois, quando foi criado o IP (Internet Protocol), por Robert Kahn e Vint Cerf, em 1973.

Trocando em miúdos, isso quer dizer que a Arpanet não era uma rede universal. Depois das ideias de Licklider e Taylor, um plano para implementar a rede foi montado, e fez-se uma licitação. É aí que a empresa BBN Technologies entra na história: ela levou o contrato (houve pouquíssimo interesse: de 140 empresas a que a proposta foi enviada, só 12 se interessaram em participar) e começou a preparar os computadores que enviaram aquele LO a que nos referimos no começo do texto. Eles bolaram os primeiros roteadores da História. O primeirão foi baseado num computador que tinha 24 kilobytes (!) de memória. Hoje, qualquer PC com 1 gigabyte de RAM tem 83 mil vezes mais memória que aquela máquina.

- Até então, tudo era baseado em circuitos dedicados como os da telefonia, como o circuito que se estabelece entre mim e você neste momento - explica Demi. - As pesquisas em direção à Arpanet trabalharam com os pacotes de dados, que são outra história.

Entre abril e outubro de 1969, trabalhou-se febrilmente no desenvolvimento da rede. Pronta, ela inicialmente tinha só quatro máquinas: a da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, a do Instituto de Pesquisa em Stanford, a da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e a da Universidade de Utah.

Depois do envio da primeira mensagem, no dia 29, a primeira conexão permanente entre dois computadores na Arpanet foi feita entre as duas primeiras máquinas supracitadas no dia 21 de novembro, e a conexão destas com as restantes, no dia 5 de dezembro.

O primeiro email com texto realmente enviado na Arpanet só apareceu em 1971. Ray Tomlinson, responsável pela façanha, conta a história no site da BBN.

- A primeira mensagem foi enviada para uma máquina ao lado da minha, conectada pela Arpanet - diz Ray. - Mandei várias mensagens de teste para mim mesmo, com um texto qualquer, como QWERTYUIOP. Quando fiquei satisfeito com o resultado, mandei uma mensagem ao resto da equipe, explicando como mandar email através da rede. E assim nasceu o e-mail: anunciando ele mesmo sua própria existência.

Para Demi Getschko, o fato de o embrião da internet ter sido criado num ambiente militar não afetou a história posterior em direção à internet.

- Os militares se valeram de grandes mentes acadêmicas; e se beneficiaram da arquitetura da rede para criar a sua própria, a MILNET (que hoje virou NIPRNET e SIPRNET - esta última, ultrassegura, só para informações top secret).

Segundo ele, a grande contribuição da arquitetura da rede para o futuro online foi sua descentralização.

- Ao contrário de uma rede de telefonia, altamente hierarquizada e que permite bilhetagem e cobrança, os primeiros tempos da internet partiram de uma premissa acadêmica, diferente daquela das telecomunicações, e por isso têm natureza descentralizada. Depois da chegada do TCP/IP, permitiu-se a fácil conexão com várias outras redes ao redor do mundo - explica. - Ou seja, o IP foi concebido como uma "cola" entre diversas redes autônomas, que não precisavam de nenhuma alteração dramática para se encaixarem na rede existente; bastava apenas usar o mesmo protocolo. Isso leva a uma gestão bem mais leve do processo todo.

A Arpanet foi crescendo ao longo dos anos, com 75% de seu tráfego consistindo basicamente em emails até meados dos anos 70. Em 1973, surgiu o FTP, permitindo a transferência de arquivos, e os nós da rede chegaram a 213 em 1981. Dois anos depois, ela entrou no mundo do TCP/IP e passou a fazer parte da internet, sendo engolida pela nuvem. Mas os valentes navegadores de hoje jamais esquecerão seus primeiros capitães.