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13 SET 1999

Fórmula-1 da Internet






Arquivo do Clipping 1999

Veículo: Correio Braziliense
Data: 13/09/1999
Assunto: Marcas X Domínios

Conexão à Web via modem será substituída por novas tecnologias
Fabricio Rocha

O drama começa com uma linha sempre ocupada. Depois de uns dez minutos tentando, finalmente o internauta pode relaxar ao som de ''schhhiiióóóin tóim, tóim'', a inconfundível musiquinha de uma conexão via modem. Por fim, o navegante olha meio torto para a informação da tela, mas se contenta com a suada conexão a 28.800 bits por segundo. Seqüência quase rotineira para os navegantes de hoje, a conexão à Internet por modem poderá acabar dentro de pouco tempo, se vingarem as novas tecnologias que começam a ser implantadas no Brasil.

Depois de uma longa espera e vários prazos vencidos, a Anatel publicou no começo do mês uma proposta de legislação para a distribuição de Internet pela rede de cabos e microondas das emissoras de TV por assinatura. A lei só será oficializada em 31 de outubro, e até lá poderá ser modificada de acordo com a opinião de usuários e provedores. As manifestações podem ser feitas no próprio site da Anatel (www.anatel.gov.br).

Concessão

A proposta prevê que os atuais provedores de acesso à Internet poderão usar a estrutura física já existente, das emissoras de TV por assinatura, bastando apenas que paguem às emissores algo como uma taxa de concessão de uso. Os usuários poderão comprar modems de rádio ou de cabo, dependendo da rede usada pelas emissoras. Em Brasília, a TV Filme usa o sistema de rádio MMDS, enquanto a Net usa a distribuição por cabo.

Antes mesmo de sair a regulamentação, os provedores de acesso discado já se preparavam para adotar as novas tecnologias. O Rudah Online, por exemplo, está fazendo estudos com a transmissão e recepção de sinais via rádio, aproveitando bandas secundárias do sinal de FM digital. O provedor é um dos poucos que usam rádio para a comunicação de seus servidores com o backbone da Embratel, e deverá oferecer o acesso por rádio aos clientes, dentro de um mês e meio. ''O preço vai variar de acordo com a velocidade que o cliente quiser, até 2 megabits'', explica Francisco Guth, responsável pelo sistema.

Testes e realidade

Uma das experiências mais avançadas que estão sendo feitas no momento está em Uberlândia. A provedora de TV a cabo Image TV e a CTBC Telecom estão oferecendo a Internet Plus, com acesso pelo mesmo cabo da TV, usando cable modem - ou, em outros termos, modem a cabo. O usuário não precisa usar linha telefônica, pois o sistema é bidirecional - ou seja, tanto transmite a informação do provedor para o usuário, como também o faz no sentido inverso, simultaneamente. O computador fica ligado à Rede durante as 24 horas do dia, sem precisar de discagem. A velocidade é entre dez e cem vezes maior do que o acesso comum por telefone.

As novas tecnologias, porém, são consideradas caras demais até por quem quer sempre o melhor equipamento. ''Os impostos são muito altos e a demanda ainda é pequena'', pondera Raphael Mandarino, presidente da Associação de Usuários da Internet e membro do Comitê Gestor brasileiro.

De qualquer maneira, segundo Rafael, o Brasil não está atrás de outros países na corrida pela Internet mais rápida. ''Os EUA ainda nem regulamentaram como deve ser o acesso por cabo'', explica Mandarino. O atraso na implantação das redes via cabo deveu-se, segundo Mandarino, a fatores políticos. As emissoras de TV por assinatura queriam ter exclusividade no uso dos novos aparelhos, mas os provedores de acesso discado acusavam que isso seria monopólio - o que a Anatel acatou e adotou na sua proposta.

Entre as várias tendências para o aumento de velocidade na Internet - que muitos explicam como aumento de bandwidth, ou largura de banda - também existem as tecnologias de ISDN e ADSL, que usam as linhas telefônicas comuns. O ISDN (também chamado de RDSI, ou Rede Digital de Serviços Integrados) é apontado por muitos, principalmente nos EUA, como o próximo passo na evolução da Internet.

No ISDN, os dados são acessados a uma velocidade de 128 Kilobits por segundo, mais do que o dobro dos modems de 56K atuais. As linhas podem ser usadas para telefonia e acesso à Web, simultaneamente. Já existem modems ISDN no mercado, e o sistema é de implementação simples. Já o ADSL, existente há dez anos, exige que a companhia telefônica tenha um modem para cada usuário do sistema. Já foi lançado nos EUA o padrão G-Lite, uma versão mais simples, barata e um pouco mais lenta que o ADSL. A BreezeCOM também lançou um sistema por rádio, que opera duas vezes mais rápido que os cable modems.

A mais moderna tecnologia de acesso disponível em Brasília ainda é o veterano Link Express, da TVA/TV Filme, lançado no fim de 1997. No Link Express, os sinais enviados pelo provedor são transmitidos ao usuário por microondas, no mesmo sistema usado pela emissora para difundir sinais de televisão por assinatura. ''Somos pioneiros e a TV Filme é a empresa brasileira melhor preparada para o acesso à Internet em alta velocidade'', diz o diretor de Programação e Marketing, Adriano Barbosa.

Sistema ainda tem problemas

O sistema enfrenta três problemas. A necessidade de uma linha telefônica para passar os dados do usuário para o servidor, o primeiro deles, é uma questão legal - a empresa diz ter pronta a tecnologia para acesso bidirecional por cabo. Em segundo lugar, o aumento de velocidade também não é tão grande assim: afinal, os dados que não estiverem no servidor do Link Express devem ser buscados na rede comum, que acaba virando um gargalo na conexão.

Mas a principal dificuldade para o Link Express - mas também para outras tecnologias de acesso rápido - é ser ainda muito caro pelas vantagens que proporciona. A taxa de adesão é R$ 299, na mensalidade se vão mais R$ 79,90, e só pode usufruir o serviço quem já é assinante da programação da TV Filme.

A empresa, porém, planeja abrir o acesso a não-assinantes dentro de 60 dias. Os downloads instantâneos de qualquer página ou arquivo da Rede ainda estão longe de se tornar realidade - afinal, isso depende das ligações de todos os servidores do mundo e dos backbones, que centralizam todas as conexões de um país. Mas com o Link Express e os sites que ficam no provedor da TV Filme, já dá para sentir um gostinho de futuro. Em um teste, um arquivo de música MP3 de 2 megabytes, por exemplo, foi baixado em aproximadamente 12 segundos.

Já o acesso a páginas e downloads do exterior, ou mesmo fora de Brasília, não desfrutam totalmente da velocidade do sistema. ''A velocidade depende do horário e do congestionamento no backbone da Embratel'', explica Marcos Daniel Vieira, gerente de projetos especiais da TV Filme. Ao meio-dia, o software Star Office, de 62 MB, foi baixado de um site na Alemanha à velocidade média de 7 KB/segundo - contra a média de 2 KB/segundo do acesso normal -, junto com outros downloads ao mesmo tempo.(F.R.)