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04 FEV 2008

Estreitando os laços entre mestres e aprendizes






Computerworld - 04/02/2008 - [ gif ]
Assunto: Indicadores

Capacitar professores no uso das TICs é tão importante quanto montar laboratórios de informática nas escolas e ampliar a penetração da banda larga. Sem medo do computador, a relação com a turma melhora e a tecnologia passa a permear todas as matérias. A garotada agradece...

Mais ainda do que em outras décadas (quando foi criado o mote do Brasil como o “país do futuro”, e não do presente), temos depositado na Educação (básica, tecnológica, continuada) enormes esperanças de alterar a situação atual de dependência econômica e baixo crescimento social de muitas nações a partir de maiores investimentos nos pilares do que chamamos de Sociedade do Conhecimento.

Surfamos a chamada Terceira Onda de Alvin Toffler e entendemos o valor próprio que a informação adquiriu no mundo do emprego – superando em muito o da matéria-prima e do trabalho humano –, passando a admitir a idéia de que o novo profissional não precisa mais ser avaliado pela quantidade de horas que passa na fábrica ou escritório, podendo justificar o salário de toda uma vida pela criação de um projeto verdadeiramente inovador e criativo, ainda que este seja fruto de uma hora apenas de seu esforço e que toda a ‘mágica’ tenha se dado à distância, através de uma videoconferência, quem sabe.

A natureza do que hoje entendemos por profissão mudou de um modo tão definitivo e avassalador que chega a ser preocupante pensar que, na outra ponta, lá no comecinho da cadeia onde se formam as mentes competitivas e imaginativas que desejamos, ainda existem alguns mestres despreparados, inseguros, temerosos da enorme brecha informacional que se interpôs entre eles e seus alunos, familiarizados desde muito jovens com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).

Pois bem, se a cultura, o saber e a interpretação da enorme carga de informação que recebemos diariamente passarão a ser os principais instrumentos de trabalho deste novo homem – que vai passar a vida inteira estudando e se preparando para si e para o mercado –, há que se dar mais atenção à capacitação deste professor de início de século, que será o responsável por ensinar primeiro ao indivíduo como se aprende, como se pesquisa nos meios digitais, como, enfim, o pensamento pode ser organizado, produzido, compartilhado e disseminado na grande teia mundial de comunicação.

Seria injustiça não mencionar que os inúmeros esforços empreendidos por sucessivos projetos de governo, especialmente a partir 1997, quando foi criado o ProInfo (Programa Nacional de Informática na Educação), já renderam resultados extremamente positivos e pavimentaram parte importante do caminho.

A criação de órgãos como os NTEs (Núcleos de Tecnologias Educacionais, com seus monitores espalhados pelos municípios) e o CETE (Centro de Experimentação em Tecnologias Educacionais) e de programas como o Mídias na Educação (voltado à capacitação tecnológica de professores da Educação Básica e à propagação de uma cultura de oferta de ensino a distância), além da própria construção de laboratórios de informática nas escolas públicas, foram fundamentais para o pontapé inicial em uma nova filosofia de gestão educacional e para chegarmos a um cenário onde já é possível constatar fatos animadores.

Como o rendimento dos estudantes de ensino superior a distância no Enade, que superou o dos alunos de cursos presenciais em nove das 13 áreas participantes nos anos de 2005 e 2006, ou ainda, como a perceptível ampliação do mercado de trabalho para tutores de e-learning. Outro dado interessante é que, na pesquisa TIC Domicílios de 2006, mais de 64% dos entrevistados que haviam utilizado a Internet nos três meses anteriores afirmaram que usaram a web para fins educacionais.

Diante da baixíssima densidade da banda larga no Brasil e do altíssimo preço dos serviços de transmissão de dados fora das regiões mais ricas, em locais onde praticamente inexiste competição, as escolas que conseguiram ser conectadas pelo governo se tornam ilhas e são muitas vezes a única opção de conectividade para os moradores.          

O esforço voluntário de centenas de educadores em difundir o uso de seus blogs, weblogs, páginas wiki e softwares educativos há que ser reconhecido, mas o problema essencial ainda é de escala: os mestres que podem desfrutar de acesso às novas tecnologias em suas cidades (incluindo aí a possibilidade do acesso residencial), ou que não resistem a elas, porque já foram instruídos para tal, ainda não minoria.

Os contrastes tradicionais entre ricos e pobres se traduzem também em brechas digitais: assim como estudantes de colégios particulares têm mais acesso à Internet¹, como escolas da periferia tem menos poder de pressão para conseguir computadores devido ao risco de depredações, o percentual de professores com acesso à rede mundial é bem diferente entre as regiões do país: segundo levantamento da Ritla com base na PNAD de 2005, ele oscila entre 65% no Sul e no Sudeste e 35% no Norte e no Nordeste. 

Ou seja, não basta levar computadores às escolas públicas ou mesmo vendê-los a preços mais baixos para a população. É preciso integrar estes educadores no processo de inclusão digital, até para que as máquinas não sejam ignoradas e sirvam apenas a propósitos burocráticos ou absolutamente convencionais, como as aulas de informática, cuidando para que seja feito todo um treinamento com esta equipe antes que o micro aporte nas salas de aula.

O governo fluminense está fazendo um grande esforço neste sentido, com a distribuição de 31 mil notebooks de última geração para uso dos professores do Ensino Médio das escolas públicas estaduais. Como não poderia deixar de ser, a iniciativa está sendo acompanhada da elaboração de cursos de capacitação a distancia que vão auxiliar estes novos usuários a partir de diversos módulos de conteúdo, começando pela introdução à informática e à navegação na internet, passando pelos programas básicos de automação de escritório e criação de apresentações até cursos específicos de competências docentes e aulas de didática. Com isso, será desenvolvida junto aos professores da rede estadual de ensino a prática da pesquisa para aperfeiçoamento de suas aulas.

O ProInfo segue no mesmo compasso, e já anunciou dois cursos de capacitação para 80 mil professores do Ensino Fundamental e Médio em 2008, através dos formadores dos NTEs.

Em ambos os casos, a proposta é permitir que os profissionais da educação compreendam e planejem o uso das tecnologias em suas tarefas diárias, radicalizando o conceito da interdisciplinaridade, usando jogos, simulações e todo tipo de ferramenta disponível para desenvolver na turma as competências que realmente fazem a diferença nesta sociedade que estamos buscando construir: capacidade de pesquisa, análise, analogia, síntese e produção de informações e de conhecimento de forma crítica e cada vez mais colaborativa, deixando a 'decoreba' para trás de uma vez por todas. A garotada, sem dúvida, agradece... 

NOTA:
Dos estudantes acima de 10 anos entrevistados pelo recente estudo “Lápis, Borracha e Teclado – Tecnologia da Informação na Educação: Brasil e América Latina”, apenas 38% afirmou acessar a web no período da pesquisa. Nas escolas públicas, 37% dos alunos do Ensino Médio haviam navegado na Internet, enquanto nas particulares esse índice subia para 83,6%.