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18 SET 2018

Escolas desenvolvem atividades para combater ‘fake news’


O Globo - 16/09/2018 - [gif]


Autor: Paula Ferreira
Assunto: TIC Kids Online Brasil 2016

O papel da instituições de ensino para barrar as notícias falsas é tema de uma das palestras do evento Educação 360

RIO— Em plena campanha eleitoral, o alerta em relação à divulgação de notícias falsas, conhecidas como fake news, extrapolou a esfera política e chegou às escolas. Na era da informação, instituições de ensino têm investido em atividades para preparar os estudantes para o uso responsável da internet e para prevenir o compartilhamento de conteúdos duvidosos. A discussão, segundo especialistas, deveria ser regra em todos os colégios, mas, para isso, é preciso preparar os professores.

O tema será discutido na mesa “Educação: antídoto contra as fake news?” durante o congresso Educação 360, que acontece nos dias 24 e 25 de setembro, no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio. O evento é promovido pelos jornais O GLOBO e Extra com patrocínio de Sesi, Fundação Telefônica, Fundação Itaú Social e Colégio pH, apoio da Fundação Cesgranrio e apoio institucional de TV Globo, Canal Futura, Unesco, Unicef e Todos pela Educação.

— A ideia de letramento para mídia, que é muito apoiada até pela Unesco, finalmente vem encontrando boa repercussão no ensino brasileiro — opina o jornalista e professor titular da ECA-USP, Eugênio Bucci, que é um dos palestrantes do Educação 360.

A formação da criança e do adolescente para que conviva bem com as formas de comunicação é um componente indispensável para emancipação do sujeito, que é um ideal da democracia, continua Bucci:

— Não estamos falando de um curso específico para proteção contra as fake news, mas de um conceito maior de conscientização.

Uma pesquisa feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), em 2016, revelou que cerca de 30% das crianças e adolescentes de 11 a 17 anos, usuários de internet, afirmam não verificar se uma informação encontrada na rede está correta. Essa relação com as novas tecnologias ganhou tanta relevância que foi incluída como uma das competências gerais da Base Nacional Comum Curricular, que norteará os currículos de todo o país. De acordo com o documento, nos anos finais do fundamental, as escolas devem trabalhar a questão das fake news e desenvolver o repertório do estudante para que seja capaz de lidar criticamente com a veiculação de informações.

Nesse aspecto, algumas instituições já saem na frente. É o caso do CEU Casa Blanca, um colégio público localizado na periferia de São Paulo. Desde 2012, a escola desenvolve o projeto “Rádio escola/Imprensa jovem” para a produção de conteúdos midiáticos. Com a ebulição das discussões sobre fake news, o tema também passou a ocupar o tempo das atividades do projeto. Lucilene Varandas ensina os estudantes, que vão do 4º ao 9º ano, a olhar a data dos textos que circulam na rede, quem assina a publicação, se há alguma instituição por trás, entre outros exercícios para questionar a veracidade do conteúdo divulgado:

— Fizemos uma pesquisa nas metodologias de agências de checagem e passamos a aplicar muitas coisas com os alunos. Muitos já sabiam o que eram as fake news. Ficamos surpresos em ver como esse vocabulário era usual para eles. A nossa preocupação era que pudessem entender que têm que pesquisar as fontes, estudar.

No Colégio Rio Branco, também em São Paulo, o tema foi abordado recentemente em uma atividade para os estudantes do 9º ano do fundamental e do 1º e 2º do ensino médio. No projeto “Construindo opiniões”, durante três aulas os estudantes refletiram sobre diversos temas relacionados ao contexto eleitoral, entre eles, os desdobramentos políticos da disseminação de fake news. Após debates, os alunos fizeram uma apresentação sobre o assunto. As notícias falsas também já foram tema de redação proposto em simulados do colégio.

— À medida que vamos tomando consciência do mal que as fake news fazem, vamos olhando para o currículo e buscando caminhos para trazer o olhar das crianças ao uso adequados das redes. Não só no sentido de não disseminar notícias sobre as quais não têm certeza, mas também de não gerar informações falsas — afirma Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco.

Se por um lado preparar os estudantes para enfrentar a “era da pós-verdade” —com a propagação de mentiras a níveis incontroláveis— deve ser uma missão das escolas, por outro elas estão longe de ter as ferramentas adequadas para esse desafio.

— Para que o letramento para mídia seja possível, é preciso uma capacitação constante de professores. Hoje há um problema grave de falta de fluência desses docentes nas tecnologias. Há também professores com pouca familiaridade com a leitura, e que não têm uma boa desenvoltura na pesquisa em plataformas digitais. O investimento na educação é, antes de tudo, o investimento em pessoas — destaca Bucci.

COMO PARTICIPAR DO EVENTO

O que é: o Educação 360 é um um encontro internacional que reúne pessoas que vivenciam e pensam a educação sob diferentes pontos de vista e põem em prática iniciativas transformadoras. O evento conta com palestras magnas de grandes nomes da educação mundial e nacional e mesas de debate, além de apresentação de estudos de casos inovadores e bem-sucedidos.

Quando e onde: dias 24 e 25 de setembro, no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio, ambos na Praça Mauá, no Centro do Rio.

Inscrições: Os interessados em participar do evento podem se inscrever pelo site do evento. A inscrição é gratuita.

Destaques desta edição: além da mesa sobre fake news, o congresso contará com outros nomes internacionais de destaque, como o economista do Banco Mundial e coautor do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2018 David Evans; o ex-ministro de Educação de Portugal Nuno Crato; e Eric Hanushek, da Universidade de Stanford (nos EUA), que realizou um estudo no qual estabelece correlações entre qualidade da educação e crescimento econômico. Outro destaque da programação é a presença do indiano Sanjit Bunker Roy criador da Barefoot College, uma instituição que promove a inclusão social por meio da educação.