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03 AGO 2009

Endereço de site pode estar com seus dias contatdos






O Estado de S.Paulo - 03/08/2009 - [ gif ]
Autores: Rodrigo Martin e Rafael Cabral
Assunto: Domínios

Google, redes sociais, serviços que abreviam os sites e acesso via celular podem dar fim, em breve

O "www" pode estar com os dias contados. Explosão de redes sociais, acesso à web pelo celular, necessidade de agilidade na informação e, lógico, a chatice de ter de decorar um monte de endereços do tipo www.site.com.br: tudo conspira para que os endereços de internet, as chamadas URLs (Uniform Resource Location ou, em português, Localizador de Recursos Universal), saiam de moda para dar espaço a outras formas de se acessar sites. E, assim, tornar a navegação mais humana, deixando de lado códigos voltados para máquinas.

Se em 1991, quando as URLs foram criadas, para saber sobre um carro novo era preciso descobrir o endereço online da montadora, hoje basta colocar o nome do carro no Google. Ou um amigo pode enviar um link no Twitter. Ou você pode apontar a câmera do celular para um anúncio do jornal e não ter de digitar o endereço nas teclinhas pequenas do aparelho. "Desde o início, as URLs são para as máquinas. Esses endereços são a base do funcionamento da internet", diz Ian Jacobs, membro da W3C.

Para se ter ideia dessa mudança - que começou tecnológica, mas tornou-se principalmente comportamental -, sites com URLs fáceis de se lembrar como MSN, Orkut e YouTube são alguns dos termos mais buscados no Google. "As pessoas preferem pesquisar a escrever na barra de endereço", diz o arquiteto da informação Guilhermo Reis. "É mais prático. Se errar a grafia, por exemplo, o Google corrige."

A questão fez que o próprio Google, ao lançar o seu navegador, o Chrome, optasse por não ter uma barra só para endereços. Ela serve tanto para digitar uma URL como para fazer uma busca. "As pessoas não se preocupam em lembrar dos endereços e, de uma forma ou de outra, já confundiam o campo para a URL com o de buscas. O que fizemos foi facilitar", explica o responsável mundial pelo Chrome no Google, Brian Rakowski.

Outro ponto: se lá no começo da internet a ideia era descobrir a URL do site para navegar na página, agora, segundo Rakowski, os internautas esperam encontrar a informação que querem diretamente. Ou seja, achar o pedaço do site que já fala sobre o assunto e não ter de ficar procurando dentro dele. Aí, além da busca do Google, que já permite clicar no link relativo à informação desejada sem passar pela home, há outra possibilidade que se dissemina cada vez mais, que é usar redes sociais, como Twitter e Facebook, para navegar online.

Os dois serviços, principalmente, colocaram um ritmo frenético na troca de links pela internet. O movimento já vinha com Wikipedia, blog, MSN, listas de discussão e outros sites do tipo 2.0. Mas, pela própria natureza destas duas redes - instantaneidade e agilidade -, isso se acentuou. Os internautas trocam cada vez mais links. E, com esses links, vieram os encurtadores de URL, que tornaram minúsculos endereços gigantescos. Não são fáceis de decorar, mas ajudam a postar.

Tanto a busca interna do Google nos sites como a troca de links do Twitter causaram outro golpe à URL: se antes o internauta ia a um site específico para buscar informações, agora quer acesso a elas independentemente do site em que esteja. E com uma chancela de credibilidade. "O filtro não é mais a URL, mas o destaque que o site tem no Google ou a indicação do amigo. Esses dois quesitos criam a relevância hoje", explica Roberto Martini, sócio da agência de publicidade digital Cubo.cc.

Em celulares, a situação é mais complexa. Digitar URLs, mesmo que pequenas, é muito mais chato no tecladinho do aparelho. Mas já há tecnologias de realidade aumentada em que não se digita nada. Num anúncio de jornal, você posiciona a câmera do celular sobre um quadradinho e pronto. O site se abre.

Se a URL irá morrer? "Para as máquinas não. Para as pessoas, irá perder cada vez mais relevância", afirma um dos "pais" da internet no Brasil, Demi Getschko, do Nic.br, o órgão responsável pelo registro de URLs no País. Mesmo assim, diz Pedro Cabral, diretor da Agência Click, ainda é uma forma de dar credibilidade ao site. "Mesmo que não cheguem pela URL, as pessoas confiam mais quando olham na barra de endereços e veem que o site tem uma marca. Isso ainda traz credibilidade."

Ian Jacobs, da W3C Contrariando as perspectivas da morte da URL, Ian Jacobs, da W3C, entidade norte-americana que tem entre seus membros os idealizadores da tecnologia, afirma que a URL, na verdade, nunca foi direcionada para humanos, mas para as máquinas, que mantêm a rede em pé.

É por ser vital ao funcionamento da internet que ela nunca acabará, afirma. Segundo ele, sempre houve artifícios para os usuários escaparem de digitar endereços na barra do navegador. O que ocorre hoje, diz, é que esses métodos estão mais disseminados, fazendo que cada vez menos as pessoas precisem saber esses códigos.

As pessoas não usam mais URL? A URL é uma tecnologia fundamental na internet. A internet está baseada nela. Isso não significa que você tenha de digitá-la. Desde o início, há formas mais amigáveis para as pessoas usarem esses endereços. As URLs são para máquinas. As pessoas sempre usaram outros artifícios. O bookmark, por exemplo, é uma forma de guardar os endereços no navegador. E é uma das tecnologias mais antigas. Alguém te manda um link e você salva. Os buscadores são uma outra forma de dar a você as páginas sem precisar digitar a URL. Não são apenas para descobrir páginas, mas muitos usam para não ter de digitar URL.

A URL nunca foi para pessoas? Isso. Sempre foi o mesmo: para as máquinas. As URLs pequenas até podem auxiliar na divulgação da marca. Algumas delas são úteis: cocacola.com, por exemplo. Mesmo assim, as URLs nunca foram feitas para serem digitadas, embora você possa fazer isso. No último Firefox você só digita palavras chaves e ele lembra as últimas páginas que você visitou. Esse é o equilíbrio. Você pode memorizar a URL, mas não precisa. Há ou encontrar as páginas. Mas ela é crítica para as máquinas.

Hoje temos uma proliferação de links. Muitas pessoas clicam em links não porque querem ir para um site específico, mas porque encontraram uma informação no buscador ou receberam uma indicação de um amigo no Twitter. Isso não é uma mudança? Os links são a forma mais antiga de esconder a URL. Uma boa página não tem URLs espalhadas, tem links. E quando você clica, você não tem ideia de para onde irá. Isso é do início da internet. Os links já eram usados em e-mails. Encurtadores de links, bookmark, buscas, nada disso é novo. É assim desde o início. Às vezes surgem novidades, como no Firefox. Mas não significa que a URL estejam sumindo.

Mas nesse começo, buscadores como Yahoo eram diretórios. Você encontrava um endereço da página principal, a URL. Era mais estático. Hoje, é mais dinâmico. Quando se busca no Google, na maioria das vezes se cai no meio do site. Não é diferente? Você sempre pode linkar no meio do site. O que mudou é a questão de confiança. As pessoas gostam de prestar atenção ao que os amigos indicam. No começo, havia algumas organizações como o Yahoo que editavam a web e proviam links com maior qualidade. Veio o Google e levou as coisas para outro patamar. Agora o que se vê com as redes sociais é um novo tipo de confiança. Mas isso também não é novo, pois no começo da internet já havia pequenos grupos de usuários que se juntavam em fóruns. O que aconteceu é que as ferramentas ficaram mais fáceis. Há mais barulho hoje. Mas o Twitter, por exemplo, é o mesmo que o e-mail foi: uma forma de enviar links.

Mas as pessoas compartilham mais links hoje? Há mais pessoas participando da web por causa de wiki, blogs, Facebook. No início, a web era mais para ler. Hoje é o número de pessoas que participam que faz a internet interessante. E é lógico afirmar que, com isso, há mais URLs sendo trocadas e de forma mais rápida.

Declínio das URLs reforça atenção com segurança Tanto os endereços comprimidos repassados pelo Twitter quanto QR Codes mascaram a URL para a qual te redirecionam. Ambos funcionam em um esquema de confiança, supondo que você não duvidará da credibilidade de alguém que você "segue" ou de uma marca que consome. O site é acessado às cegas. Prato cheio para difusores de sites maliciosos, que vêm usando esses serviços para espalhar vírus pela rede.

Por causa dessa insegurança, foram criadas ferramentas para "desencurtar" páginas escondidas atrás de compressores, como a UnTiny e o TheRealURL. "O problema é que os encurtadores são mais um intermediário no processo. Usuários mais ingênuos não notam isso", afirma o desenvolvedor Nir Yariv, que começou com o TheRealURL para ironizar o TinyURL. Outros serviços, como o TrueURL, oferecem aplicativos para o Firefox.

Segundo Fabiano Tricarico, gerente da Symantec Brasil, os hackers tiram proveito da confiança "que é intrínseca ao Twitter". Quem usa sites de compressão precisa estar protegido, diz ele, pois o "usuário comum não tem condições de saber para onde está sendo levado".