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29 AGO 2022

Crianças e adolescentes buscam apoio emocional na Internet


IstoÉ - 26/8/22 - [gif]


Autor: Elba Kriss
Assunto: TIC Kids Online

Estudo mostra que 88% das crianças e adolescentes já têm perfis nas redes sociais. Na Internet, uma significante parcela busca apoio emocional e acende alerta para pais e educadores sobre riscos no mundo virtual

O primeiro contato com as redes sociais é marcante para a geração online. Entrei no Facebook aos sete anos por causa dos jogos. Ganhei meu smartphone aos nove e entrei no Instagram, relembra Gabriel Godoy, 17. Ele é a realidade da pesquisa TIC Kids Online Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil. O estudo busca compreender de que forma a população de 9 a 17 anos utiliza a Internet e como lida com os riscos e as oportunidades decorrentes desse uso. Evidenciou-se que 88% têm perfis em redes sociais. A maioria utiliza para ver filmes e séries (84%). Na sequência, há o uso de mensagens instantâneas (79%) e das plataformas (78%), como Instagram e TikTok. Apesar do aspecto positivo, essa prática também pode afetar a saúde mental. Um ponto relevante constatado é que 32% dos entrevistados afirmaram ter procurado ajuda para lidar com algo ruim que vivenciaram ou falar sobre suas emoções quando se sentiam tristes. Pode ser um canal de amparo ou uma conversa com um colega.

Quando estou mal, mando mensagem para um amigo. Mas sou adepto do Twitter e, às vezes, aparece alguém falando algo que não se sabe se é um chamado de socorro ou um desabafo, conta Gabriel Vallim, 16. Muitos têm dificuldade de dialogar com os pais. Se você não tem apoio em casa, busca com quem quer te ouvir, completa Lara Celista, 17. Tem uma fase na adolescência, acho que entre 13 e 14, que tem esse afastamento dos pais. É quando mais se recorre às redes, comenta Bruna Linguitte, 17. Os quatro personificam a atual pesquisa. Luisa Adib, coordenadora da apuração pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, analisa que os dados trazem uma perspectiva positiva de que a Internet pode ser um canal de busca de ajuda.

Demonizar a tecnologia é a pior estratégia possível, pois o proibido chama mais atenção. Ela tem aspectos positivos e é uma realidade sem volta Erica Mantovani, psicopedagoga

Mas exige cuidados, pois não necessariamente é o mais adequado. A criança precisa ser vista e ter outros espaços de compartilhamento com responsáveis para que ela seja orientada da melhor forma, observa. Cláudia Tricate, diretora pedagógica do Colégio Magno/Mágico de Oz, em São Paulo, faz um apontamento antes que responsáveis se alarmem.

Adolescentes já faziam isso: desabafavam e buscavam seus iguais. Só que a gente não lia ou via uma foto. Agora está documentado, diz. Sou reticente em falar que isso prejudicou ou ajudou. Aconteceu e é o que temos, acrescenta. O debate sobre a vulnerabilidade é inevitável. Ainda mais nos casos dos menores, por isso, é preciso que a família seja ativa na mediação. Stella Lambert Zakka, 10, queria tanto um celular que comprou o primeiro aos oito anos com meses de mesada. No aparelho, ela acessa o YouTube, o TikTok e o WhatsApp. Tudo sob o olhar dos pais, que instalaram um serviço de controle parental. O veterinário Francisco Zakka, 43, detalha as regras para a filha. O dispositivo monitora todas as atividades, como o tempo que ela passa nos aplicativos, e controla o período ao celular. Hora de dormir é hora de dormir, narra.

O zelo é aprovado por especialistas. É preciso agir com cautela, conversar e educá-las sobre a importância dos limites, aconselha Natalia Avanci, médica pediatra formada pela Universidade São Francisco, em Bragança Paulista (SP). A infância é um período crucial para o desenvolvimento motor e cognitivo da criança. O uso excessivo de telas aumenta o risco de apresentarem habilidade motora pobre, diz. Erica Mantovani, psicopedagoga e coordenadora do Colégio Mater Dei, em São Paulo, defende o diálogo familiar: Demonizar a tecnologia é a pior estratégia possível, pois o proibido chama mais atenção. Sempre, em todos os tempos, foi assim e assim será. A tecnologia tem aspectos positivos e é uma realidade sem volta. A pesquisa do Cetic traz um outro ponto pertinente: o papel das plataformas em suas políticas de conteúdo, segurança e privacidade. Instagram e TikTok estão atentos ambos exigem idade mínima de 13 anos. O TikTok oferece recursos para garantir a segurança dos mais jovens, como Sincronização Familiar, que permite aos pais vincularem suas contas a de seus filhos, comunica. O Instagram informa que até o fim do ano terá a Central da Família, um espaço onde os pais podem supervisionar as contas de seus adolescentes. As redes sociais estão se adequando ao mundo real.