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01 SET 2007

Conteúdo Digital na mira do CGI






Veículo: ARede
DataData: 09/2007
Autora: Anamárcia Vainsencher
Assunto: Conteúdos Digitais

Ainda em 2007, saem editais para financiar projetos de fomento e difusão de conteúdos em português.

O Comitê Gestor da Internet (CGI.br) vai publicar, ainda este ano, editais para financiamento de projetos que contemplem o fomento e a difusão de conteúdos digitais em português. Essas chamadas vão envolver recursos da ordem de R$ 10 milhões, segundo Henrique Faulhaber, membro do Comitê e primeiro integrante da comissão formada para tratar da questão, presente aos dois encontros (em julho e agosto) do CGI.br dedicados a peneirar as questões relevantes para a elaboração dos editais de seleção dos projetos.

A iniciativa reflete a decisão do CGI.br de expandir suas fronteiras de atuação para além das atividades de suporte à infra-estrutura da rede; nomes de domínio “.br”; distribuição de endereços de IP; segurança das redes; combate ao spam; pontos de troca de tráfego; discussão da governança da internet. No planejamento estratégico da instituição, em 2005, definiu-se que o Comitê deveria investir em projetos de fomento e difusão de conteúdos digitais em língua portuguesa. Um tema de vital importância para o desenvolvimento não só da rede, mas, principalmente, da cultura, educação e valorização da própria identidade do país, como ressalta Henrique. “Através de um programa de conteúdos, visamos nossa maior inserção na sociedade da informação,” pondera o representante do segmento de TI e software na comissão de trabalho de conteúdos (CT Conteúdos).

Julio (Juca) Worcman aplaude a criação do grupo de conteúdos, e tem grande expectativa em relação aos editais. Ele e equipe têm apreciável bagagem no mundo digital em língua portuguesa: a produtora e distribuidora de programas de TV (pricipalmente pedagógicos) Synapse assina o Porta Curtas Petrobras, na internet desde 2002, e cujo sucesso levou à criação do Instituto Tamanduá Synapse Cultural, Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) voltada ao apoio a iniciativas de catalogação e difusão, via internet, de informações rich media (em formato multimídia interativo) sobre a produção cultural brasileira, como o projeto Porta Curtas (veja o quadro).

A idéia do Tamanduá, conta Juca, nasceu da constatação de que, nas demais áreas (fonográfica, editorial, audiovisual, artes plásticas e artes cênicas), ainda é enorme a carência de catalogação e difusão cultural. O instituto tem projetos em todos esses campos, que podem se beneficiar dos incentivos fiscais da Lei Rouanet. Mas nem por isso conseguiram patrocínio até hoje. “Contamos com a possibilidade de que algum de nossos projetos se enquadre nos futuros editais do CGI.br, porque, no geral, os editais atuais não são preparados com essa finalidade”, observa Juca.

Apesar dos encontros já promovidos pelo CGI.br, continua enorme a diversidade de questões levantadas. No primeiro, foram explicitadas as motivações que norteiam o Comitê, a começar pelo aumento da quantidade de conteúdos digitais de qualidade em português. E, mesmo que conteúdos relevantes da cultura sequer estejam digitalizados, segundo assinala Henrique, já há materiais importantes em formato digital, porém escondidos — DVDs e CDs nas gavetas, em sites isolados, em bancos de dados pouco acessíveis. Seja porque muitos conteúdos não estão catalogados, ou estão de forma primitiva; ou porque os conteúdos não estão acompanhados de suas necessárias descrições; seja porque há muito pouca divulgação do que existe.

Henrique destaca, ainda, que qualidade não quer dizer apenas arte e cultura chamadas eruditas. Portanto, é preciso levar em conta as manifestações da cultura popular diversificada e plural. E pontuou que, no projeto do Comitê, no médio prazo, há que considerar também como conteúdos os de empreendedorismo, histórias de vida, culinária, produção jornalística e difusão científica, dentre tantos. “Não queremos valorizar somente o que ganhou reconhecimento no passado, mas, principalmente, dar valor e espaço à cultura contemporânea que, muitas vezes, já nasce digital. Tanto nos grandes centros quanto nas regiões periféricas, em comunidades que muito recentemente vêm sendo incluídas digitalmente, e sendo capacitadas para se tornarem protagonistas do fazer cultural”, diz.

O foco do grupo, desde o início, são o uso e as implicações do projeto de conteúdos digitais na educação da juventude. Porque, para fazer a inclusão digital, é preciso investir de forma pesada nos conteúdos, senão a inclusão será somente parcial. “Não podemos fazer a inclusão para que nossos jovens naveguem tão-somente nos Orkuts, na Disney, no Second Life, no MSN e no Par Perfeito, embora essas comunidades de serviços e sites tenham conteúdos muitas vezes interessantes. Devemos estimular os conteúdos em língua portuguesa que fortaleçam a identidade nacional e nossa cooperação com os países que compartilham nossa língua”, argumenta Henrique.

Os debates e as propostas se centram em torno das questões pertinentes aos grandes temas que vêm sendo discutidos em grupos. Um, examina os acervos, em busca de caminhos para o mapeamento de conteúdos existentes; trazer para a internet a produção cultural viva; promover a produção contemporânea que já nasce digital; digitalizar, indexar, armazenar, colocar à disposição, difundir. Além disso, esse grupo levantou o problema da propriedade intelectual e dos modelos de negócios possíveis a partir das iniciativas discutidas, mesmo com conteúdos que tenham direitos autorais. A saída seria adotar o Creative Commons? Estimular a criação de ativos com direitos ou a produção de mais conteúdo livre?

Outro grupo reflete sobre tecnologia e ciência da informação, consideradas fundamentais para encaminhar os temas discutidos pelos grupos de acervo e de propriedade intelectual. Aqui, lembra Henrique, é nas camadas de software e serviços, e na tecnologia e ciência da informação que estão sendo criadas as grandes possibilidades de desenvolvimento de fronteira. Por isso, neste projeto, “sem xenofobia ou sem ser xiitas”, deve-se privilegiar a produção nacional de conhecimento em software, tecnologia e ciência da informação, definidas como estratégicas e portadoras de futuro pelo governo federal.

“Precisamos usar projetos como este para fazer com que as prioridades colocadas nos discursos e no papel se tornem prioridades de fato, e que, efetivamente, tenhamos políticas públicas de desenvolvimento nas áreas de TI nacionais,” assinalou. O grupo de tecnologia discute questões como padrões emergentes de metadados no tratamento de informações da área cultural; tagging de conteúdos pelo usuário; padrões para arquivos abertos; aprofundamento da busca além do que os mecanismos existentes oferecem; protagonismo do usuário; heterogeneidade de práticas de catalogação e indexação, etc.


MinC defende integração de políticas

O Ministério da Cultura, que participa da comissão, anunciou firme engajamento na agenda da digitalização dos conteúdos nacionais em português, segundo o secretário de políticas culturais, Alfredo Manevy. Para ele, as questões levantadas são pertinentes à integração de políticas estratégicas de Estado. 

“Estamos falando de uma política de conteúdo, de tecnologia, de propriedade intelectual, de língua portuguesa, e de uma política educacional. A integração de políticas setoriais não é um costume do Estado brasileiro,” diz. E explica que o Estado brasileiro herdou uma forma compartimentada de desenvolver, formular, articular e gerir políticas. Mesmo que conteúdo, produção cultural, tecnológica e científica não sejam uma agenda exclusiva de Estado, porque não são serviços como educação e saúde, que cabe ao Estado prestar, como é a sociedade que produz cultura, “cabe ao Estado garantir e assegurar os meios e mecanismos para que a sociedade possa desenvolver plenamente a sua produção e seu acesso à cultura”, destaca.

Para Manevy, o grande desafio é preparar o Brasil para ser um grande produtor de conteúdo. Ao país não faltam criatividade ou riqueza de expressão cultural. O problema estaria na distribuição, na falta de meios e formas para que a produção cultural possa circular socialmente, e de maneira mais equânime.


Curta-metragens para todos

Portais é o que não faltam. Uns estão às moscas por falta de atratividade. Outros são um sucesso, caso do Porta Curtas Petrobras, cujo acervo inclui 4.150 filmes para pesquisar, 509 para assistir, e quase 18 mil fichas de artistas e técnicos. Na web desde 2002, o projeto tem patrocínio majoritário da Petrobras, que cobre, em média, 60% dos orçamentos anuais, e se destina a suprir a lacuna de informações sobre a produção brasileira de curta-metragens, e propiciar a exibição gratuita dos filmes, na íntegra. Desde a estréia, foram 10 milhões de visitas, 58 milhões de page views, 7,5 milhões de exibições.

A grande difusão do Porta, conta Juca Worcman, da Synapse e da Oscip Instituto Tamanduá Synapse Cultural, deve-se a três fatores: uso de ferramentas interativas, resultados de busca ricos, sistema automatizado de parcerias de difusão. O que importa é que a obra vá ao espectador. A difusão da produção cultural passa por sua exposição ao leitor/consumidor que, se se sentir atraído, navega em torno dela, ensina. Resultado: em 2006, nasceu o Curta na Escola, módulo pedagógico do Porta Curtas Petrobras que dispõe de site próprio voltado para a comunidade de educadores, e lançou o primeiro volume da Coleção Curta na Escola, DVD de curtas com alto potencial didático, que será distribuído, gratuitamente, para 600 escolas da rede pública.

http://portacurtas.com.br
http://curtanaescola.com.br
http://institutotamandua.org.br

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