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01 JAN 2012

Conexão Social - Em se plantando... tudo dá!






ARede - 01/2012 - [ gif ]
Assunto: Indicadores CETIC.br

Governo federal apoia projetos que promovem 
a inserção tecnológica de jovens de áreas rurais e comunidades tradicionais Lúcia Berbert

ARede nº 77 janeiro de 2012 - Eles são oito estudantes indígenas, da área de saúde, antenados e preocupados com suas comunidades. E começam 2012 com o desafio de criar uma rede social que propicie visibilidade para a cultura de seus povos, por meio do uso de tecnologias da informação e da comunicação (TICs). A ideia é criar um espaço em que sua gente possa compartilhar histórias, organização, práticas de saúde, hábitos sanitários e expressões culturais. Beneficiados por programas de cotas da Universidade de Brasília (UnB), esses jovens participam do projeto Vida Paralela Indígena, um dos 59 selecionados, em 2011, em uma chamada pública da Secretaria de Inclusão Digital (SID), do Ministério das Comunicações (Minicom). A iniciativa, em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, vai apoiar financeiramente ações que promovem a inserção tecnológica de jovens da agricultura familiar e de assentamentos rurais, ou de comunidades tradicionais como quilombolas, fundo de pasto, ribeirinhos e indígenas.

O resultado da chamada pública mostrou que, ao se plantar iniciativas de incentivo, frutificam ideias inovadoras: inscreveram-se 147 projetos de 67 universidades e institutos federais de ensino superior de 22 estados e do Distrito Federal. Dos selecionados, 20 são dedicados à educação no campo, com ênfase na capacitação de professores das escolas públicas rurais, para uso das TICs. Outros 20 voltam-se para gestão e comercialização da produção na agricultura familiar, em especial os centrados no apoio à profissionalização nas cadeias produtivas.

Os demais 19 projetos trabalham com formação de jovens do campo na área de comunicação digital, para que atuem como produtores e multiplicadores de informações e representações locais. Nesse grupo está incluído o projeto Vida Paralela Indígena, que prevê atendimento de povos em sete estados: os Atikum e Fulni-ô, 
localizados em Pernambuco; Makuxi, em Roraima; Tupiniquim, no Espírito Santo; Guarani, em Santa Catarina; Pataxó, na Bahia; Pira-tapuya no Amazonas e Potiguara, na Paraíba.

A proposta surgiu como uma continuação do trabalho de extensão que os alunos realizaram em suas comunidades. Munidos de celulares e máquinas fotográficas, eles documentaram o cotidiano de lideranças, mulheres e jovens. Registraram o modo de vida, práticas de saúde, condutas sanitárias, manifestações culturais e ações referentes a conflitos socioambientais e socioculturais. Além de álbuns fotográficos e vídeos, o trabalho resultou em um seminário onde se discutiu a fundo a saúde indígena.

A rede social vai ajudar a estabelecer um intercâmbio de informações e experiências, além de servir como meio para a construção coletiva de estratégias de enfrentamento da realidade. A coordenadora do projeto, Maria da Graça Hoefel, não esconde o entusiasmo com os benefícios da cultura digital. Médica e professora do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, ela prevê a instalação de um espaço cultural em cada comunidade, equipado com computador, acesso à internet, celulares e data show para auxiliar na documentação da identidade das comunidades. Há também a possibilidade de instalação de cineclubes, para exibição de filmes sobre cultura indígena, além da contratação de um bolsista que atuará como agente multiplicador para o uso das tecnologias nas aldeias.

Os projetos selecionados atenderão mais de 35 mil jovens. Lygia Pupatto, titular da SID, se diz impressionada com a participação das universidades federais e institutos tecnológicos, para os quais o chamamento foi direcionado, segundo ela, “em função da facilidade de transferência de recursos para os projetos”. A intenção é ampliar o edital para projetos também das universidades estaduais que, na sua visão, têm maior capilaridade no interior. A representante do SID acredita que os projetos em parcerias com universidade e institutos tecnológicos acabam funcionando como um selo de qualidade dos cursos que serão ministrados: “É preciso promover e se apropriar do grande conhecimento que essas máquinas permitem”.

Um exemplo vem do Instituto Federal do Maranhão (IFMA). Trata-se de um projeto coordenado pelo professor Antonio José Dias Vieira, de implantação de uma rádio comunitária com versão web, que servirá para a capacitação digital de professores e alunos no município de Zé Doca, no oeste do estado.

Localizada no polo do Alto Turi, a cidade cresceu a partir do fluxo migratório de nordestinos para o Norte do país, na década de 1970. Palco de um grande plano de assentamento rural de quase um milhão de hectares, Zé Doca tem cerca de 50 mil habitantes, grande parte deles cearenses e seus descendentes. Segundo Vieira, a ideia é preparar os moradores – que praticamente não dispõem de conexão à internet – para debater os problemas que atingem a comunidade rural, questões agrícolas e de saneamento, compartilhando pesquisas e soluções.

Para que o projeto entre no ar, será feita a capacitação de 120 professores e alunos das 33 escolas públicas municipais e de 40 representantes de cinco associações localizadas em áreas rurais do município, para a instalação de cinco rádios web comunitárias. A inserção no mundo das TICs será por meio de oficinas de texto jornalístico radiofônico, incluindo a produção de jingles, e desenvolvimento de páginas online utilizando ferramentas e serviços gratuitos. Dez alunos de cursos do IFMA – Campus Zé Doca receberão formação para fazer o gerenciamento da rádio. O conteúdo produzido será divulgado em rádio AM local.

O custo do projeto, avaliado em R$ 194 mil, acabou reduzido quase à metade em função da impossibilidade de repasse de verba para contratação das conexões à internet, que dependem basicamente de serviço via satélite. O acesso será por meio de pontos do Gesac, programa do governo federal de conexão via satélite. “A nossa preocupação é que essas antenas chequem a tempo de não comprometer o trabalho”, ressalta Vieira.

A SID assegura que os pontos Gesac, necessários para execução de 15 dos 59 projetos aprovados, estarão entregues. “Serão aproveitados pontos desativados em função da chegada de outras formas de acesso à internet”, promete Frederico Tomé, assessor técnico da secretaria.

Foram destinados mais de R$ 8 milhões dos 
R$ 10 milhões previstos no orçamento de 2011. Cada projeto recebeu entre R$ 100 mil e 
R$ 200 mil. A execução será em 16 meses, a partir do repasse dos recursos, feito em dezembro. Para cumprir o prazo, as instituições tiveram apenas 15 dias para contratar os equipamentos e serviços necessários. Por causa disso, nem todas as metas acabaram cumpridas, como no caso do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG), proponente da ação de capacitação de jovens de 15 a 29 anos, responsáveis pela instalação de um telecentro na comunidade quilombola Palmeirinha, no município de Pedras de Maria da Cruz, em Minas Gerais.

O custo estimado do projeto é de R$ 105 mil. Porém, em função do curto prazo para empenho das despesas, alguns itens deixaram de ser contemplados, como as conexões à internet e o transporte dos professores e bolsistas do campus do instituto até o quilombo, uma distância de 29 quilômetros. A alternativa foi obter financiamento do transporte no próprio instituto, usar o registro de preço de compras governamentais para aquisição dos equipamentos e garantir os acessos à internet por meio do Gesac.

O telecentro comunitário, com 11 computadores com acesso à internet, será implantado na escola municipal Guilherme Arcanjo de Oliveira, localizada na área remanescente de quilombo. A ideia é potencializar a capacidade agrícola familiar, principal fonte de renda dos 778 moradores. Para isso, serão oferecidos cursos de informática básica e de informática aplicada à agricultura, com ênfase no uso de recursos para a gestão e comercialização das colheitas.

O projeto prevê a capacitação de seis alunos bolsistas do IFNMG, responsáveis pelo treinamento dos jovens da comunidade, além de elaboração de material de apoio didático-pedagógico. Estipula ainda a criação de um curso de formação de jovens multiplicadores da inclusão digital, para compartilhamento dos conhecimentos adquiridos com o restante de comunidade. O coordenador do projeto, professor Helder Seixas destaca que o principal objetivo é evitar a evasão dos jovens quilombolas, forçados a migrar para outras regiões para trabalhar como mão de obra barata na colheita de grandes lavouras, pois não encontram fonte de renda, nem perspectiva de crescimento na comunidade. “A grande maioria nunca teve contato com um computador e desconhece o potencial que a internet oferece. Portanto, incluir esses jovens no mundo digital pode ser fator fundamental para novos rumos da comunidade”, defende Seixas.

A fixação do jovem no campo é apontada como meta por todos os projetos aprovados. Uma tarefa e tanto, considerando-se que apenas 6% dos municípios da zona rural brasileira têm acesso à internet. Segundo o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE ), 15,65% da população brasileira viviam em situação rural em 2010, contra 84,35% em situação urbana. Dados da 5ª Pesquisa sobre Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil (TIC Domicílios 2009), realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), revelam que, nas áreas rurais, 54% dos brasileiros navegam na rede em lan houses, enquanto somente 30% acessam a web em seus domicílios.

Qualidade de vida é outra tônica dos projetos. O uso de smartphones para promover a educação continuada da população rural em protocolos (condutas clínicas) de saúde é o objeto do projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em que serão beneficiados cerca de 1.500 jovens que moram em assentamentos rurais dos municípios de Pombos, São Lourenço da Mata e Tracunhaém, todos em Pernambuco.

Segundo a coordenadora do projeto, professora Cristine Gusmão, do Departamento de Cirurgias da UFPE, a proposta é usar soluções computacionais inteligentes de apoio ao diagnóstico médico amparadas por equipamentos móveis, como smartphones e tablets, de forma a otimizar atendimentos médicos em unidades de saúde da família. “Ou seja, vamos desenvolver aplicativos para esses celulares inteligentes, seja em forma de games ou checklist, com orientações sobre educação sexual para os jovens do campo, por exemplo”.

O projeto, estimado em R$ 200 mil, dará continuidade ao projeto InteliMED, um suporte remoto de diagnóstico médico utilizando tecnologias inteligentes e equipamentos móveis de forma integrada, também desenvolvido na UFPE, com recursos da Finep, e que foi encerrado em 2011. Finalizada a evolução e instalação desses protocolos nos dispositivos móveis, será iniciado um programa de capacitação e treinamento da população jovem rural utilizando o InteliMED.

Para a execução do projeto, estão previstas bolsas para estudantes nas áreas de ciência da computação, engenharias e medicina, que atuarão como interfaces entre o sistema e a população beneficiada. “A utilização de equipamentos móveis em saúde já foi amplamente comprovada, especialmente para viabilizar a interiorização de aplicações da telessaúde principalmente para serviços de saúde comunitária”, diz Cristine.