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24 JAN 2009

Campus Party: futuro das lan houses está no acesso gratuito






O Globo - 24/01/2009 - [ gif ]
Assunto: Indicadores

Enquanto geeks e nerds aproveitavam as últimas horas de superbanda da Campus Party, os donos de lan houses estavam no espaço de inclusão digital do evento para discutir modelos de negócios para o setor. A boa notícia é que a lan house 2.0, que começa a ser criada no evento, passa pelo modelo de acesso gratuito para os clientes. Segundo Mario Brandão, presidente da Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital (ABCID), os donos de lan houses e cybercafés precisam estruturar o negócio sem depender da receita proveniente da venda de acesso.

- Temos vários tipos de serviços que podem ser oferecidos dentro de uma lan house e todos eles podem ser rentáveis, da venda de café e salgado até a venda de cursos online - explica Brandão.

Ele acrescenta ainda que esse novo modelo também colocará em cheque a informalidade.

- Para conseguir parcerias ou ainda vender serviços, o estabelecimento tem que ter CNPJ, conta bancária de pessoa jurídica. Ou seja, tem que estar dentro da lei. Ele não sobrevive se o cara que for legalizado oferece acesso gratuito - afirma Brandão, pregando ainda uma maior parceria entre os próprios donos de lan house.

Estranhamente, várias das pessoas da plateia concordam com a colocação.

- Saindo daqui (Campus Party), já vou procurar algumas novas opções de receita, como os cursos online - afirmou Renato Proença, dono de um cybercafé em Sorocaba, a 92 quilômetros da capital.

O mesmo caminho será percorrido por Edinaldo José de Oliveira, dono de uma casa em Vitória, no Espírito Santos.

- A TV Cultura já tem um programa beta que a gente instala em nossas máquinas para permitir que o cliente acesse vários conteúdos oferecidos pelo canal. Em troca, recebemos uma receita pelo acesso - explicou.

Além de modelo de negócios, as palestras ainda serviram para tentar unir o setor.

- Hoje, a maioria dos empresários vê o outro como um concorrente perigoso. Seria muito melhor para o mercado que eles fossem parceiros. Por exemplo, poderiam fechar grupos para comprar de softwares a salgadinhos com um desconto maior - diz.

A união pode dar mais força ao grupo na hora de conseguir políticas públicas que favoreçam o setor. Atualmente, não há nem mesmo regulamentação para a área.

- A gente tem que se encaixar dentro de um emaranhado de lei para conseguir trabalhar, o que mais uma vez acaba dando margem para a ilegalidade. O sujeito abre sua lan na periferia, nas favelas, nos locais de difícil acesso para a fiscalização - explica Brandão.

Para ele, o próprio governo já está entendendo a necessidade de regulamentar o setor.

- Hoje, as lan houses são mais importantes para a inclusão social do que os próprios telecentros - diz o presidente da ABCID, baseando-se em recentes pesquisas sobre a internet brasileira.

Em 2007, segundo dados do Comitê Gestor de Internet no Brasil, o acesso à internet a partir de lan houses ultrapassou o acesso doméstico: 49% contra 40%. Levantamento da Fundação Getúlio Vargas ainda mostram que há cerca de 90 mil lan houses no país, número muito superior ao das livrarias, que somam 2,6 mil, ou das salas de cinema, cerca de 2,3 mil. Entre elas, 100 estão na Favela da Rocinha, 30 na Cidade de Deus e 150 no Conjunto de Favelas da Maré, todas no Rio de Janeiro.

- São essas pessoas que estão promovendo a verdadeira inclusão digital. Deixamos de ser apenas um espaço para jogos e viramos um prestador de serviços à população - diz Brandão.

Um levantamento feito com visitantes da própria Campus Party mostra que atrás de jogos e acesso, os outros motivos que levam uma pessoa a lan house são pesquisa (inclusive escolares), transferências de mídia (fazer download de fotos e de arquivos de música, por exemplo) e ainda a inscrição de currículos em sites de emprego e a inscrição em concursos.