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05 JUL 2011

A rápida ascensão e queda das LAN houses no Brasil






Época Negócios - 05/07/2011 - [ gif ]
Autor: Guilherme Felitti
Assunto: Indicadores CETIC.br

Há três anos, metade dos acessos à internet no Brasil era feita por LAN houses. Hoje, a proporção caiu para um terço. No sentido contrário, nunca a conexão doméstica à internet foi tão relevante no Brasil. O ápice veio no ano passado – mais de metade (56%) das conexões estavam no conforto do lar. As informações são do estudo TIC Domicílios 2010, divulgada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br) na semana passada.

Os dois vetores contrários representam uma tendência: principal veículo de inclusão digital há poucos anos, as LAN houses estão cada vez menos populares. Já a banda larga se tornou barata o suficiente para que a classe C possa adotá-la. Os dois movimentos têm uma ligação direta: com conexão em casa, por que sair para navegar em redes sociais, procurar emprego, ver vídeos no YouTube ou trocar mensagens no Messenger?

Os dados do TIC Domicílios (a pesquisa mais abrangente sobre uso de internet no Brasil que você encontrará) refletem estudo demográfico da Plano CDE divulgado coincidentemente também no final da semana passada. O brasileiro médio que frequenta LAN house é um homem solteiro de até 24 anos no Nordeste ou Sudeste com renda familiar de até R$ 2 mil e oito anos de educação formal. É um retrato das classes C-, D e E que ocupam as LAN houses brasileiras, mas com leves alterações, segundo Luciana Aguiar, diretora-executiva de Plano CDE.

O principal exemplo é a escolaridade: em média, brasileiros da classe D passam oito anos da vida na escola. Dos que vão à LAN house, 78% dedicaram mais tempo aos estudos – ou têm o ensino médio completo ou a faculdade incompleta. Mesmo acima da média, o número é muito baixo: apenas 6% deles terminaram a faculdade.

Fora deste perfil médio descrito, as LAN houses acolhem também crianças que fazem lição escolar ou mulheres que imprimem receitas vistas na TV, cita Luciana. Em grande medida, porém, o uso de internet ainda é atrelado à falta de opção. “A tendência de você ter mais classes sociais com banda larga doméstica é um fato”, diz ela.

Pelos números do CETIC.br, a LAN house caiu e a internet doméstica cresceu como consequência do barateamento dos planos a partir de 2006. A desoneração de ICMS para banda larga no final de 2009 (conexões de até 1 Mbps passaram a custar R$ 29,80) acelerou o processo em São Paulo. Caso saia do papel, o Plano Nacional de Banda Larga levará, em seu primeiro estágio, conexões mais baratas para muitas cidades do Nordeste, região onde as LAN house são mais populares.

Ou seja: “nos próximos anos, o crescimento do acesso domiciliar irá reduzir ainda mais o uso das lanhouses para acesso à rede”, diz  Juliano Cappi, coordenador de projetos do CETIC.br. Quando a adoção de banda larga doméstica ultrapassa a classe C, o mercado sofre duas consequências: ou a LAN house se transforma em espaço que congrega serviços gerais (não só apenas ligados a tecnologia) ou fecha.

Um bom exemplo do segundo caminho foi a rede Monkey. Em abril, a última dentre 63 lojas pelo Brasil fechou suas portas. O motivo: os garotos que bancavam os ganhos mensais passaram a jogar online a partir de casa. No quê as LAN houses podem se transformar? Centros de inclusão para deficientes ou cooperativas regionais são algumas das possibilidades já exploradas. A necessidade de quem já tem uma – e não está satisfeito com os ganhos em queda – deverá mostrar outras.