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18 ABR 2008

A classe C[omputadorizada] e a porta da esperança






O Tempo - 18/04/2008 - [ gif ]
Autor: Israel do Vale
Assunto: Indicadores

A Internet ganha contornos cada vez mais claros de uma espécie de portal da esperança de ascensão social e conquista de direitos no Brasil. Esta é uma das leituras possíveis a que se pode chegar na análise da mais recente pesquisa de acesso a computadores e à web, trazida à baila esta semana.

Os dados têm origem no Cetic, o Centro de Estudos Sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (www.cetic.br), responsável por dois outros levantamentos anteriores.

A edição deste ano traz uma novidade em relação às demais. Mensura também o número de pessoas que se relacionam virtualmente com o poder público - ou, noutras palavras, o nível de relacionamento do cidadão com as ferramentas de governança eletrônica, uma prática ainda acanhada e incipiente que tem na TV digital um imenso potencial de crescimento.

O estudo amplia os sinais do avanço da classe C como protagonista [quem sabe, futuro eixo de influência] do processo de inclusão [social e digital] nos tempos que correm - um provável efeito colateral dos 20 milhões de novos brasileiros que ascenderam a esta faixa nos últimos anos.

A tendência de ocupação de espaços [digitais, que seja] pelas classes menos favorecidas economicamente se manifesta de maneiras variadas. Os internautas com renda familiar entre três e cinco salários mínimos respondem, por exemplo, pelo principal salto no uso da governança eletrônica - em casos como o de consultas de CPF, busca de informações sobre a rede pública de ensino ou declaração de imposto de renda, por exemplo. Nesta faixa social, o índice de utilização dos serviços quase triplicou entre 2005 e 2007 - saindo de 14% para 40%.

[O nível de ensino é um dos fatores determinantes no perfil do usuário. Quase a metade (49%) dos internautas brasileiros que usam estas ferramentas concluiu o ensino médio. Já o número de pessoas com faculdade soma 39%. A faixa da população pertencente à classe A que busca as ferramentas eletrônicas para encurtar o caminho no relacionamento com os governos é percentualmente superior, claro. Numericamente, contudo, representa apenas 5% dos usuários].

Outro indicador flagrante da conquista crescente do espaço virtual pelas classes mais populares é o sensível aumento do uso de lanhouses. De 2006 para 2007, a conexão à web em espaços como este cresceu 63% - saltando de 30% para 49%. Já é 22% maior que o número de seres humanos (40%) que navegam a partir da própria casa.

Não é demais lembrar o impacto do recente barateamento dos computadores [por meio de políticas públicas e fiscais incisivas], que se traduz na venda de nada menos que 10 milhões de laptops e computadores de mesa apenas no ano passado - o que permite que um em cada quatro domicílios tenham hoje computador no país [um aumento de 20% do ano retrasado para o passado\].

Há ainda uma vala entre o uso do computador e o acesso à Internet, é verdade. Mas ela começa a ser tapada com mais rapidez. Em 2006, 54% dos brasileiros nunca tinham utilizado computador, um índice reduzido em sete pontos percentuais na comparação com o ano passado.

O acesso à web, por sua vez, cresceu oito pontos - de 33% para 41%. Sinal de que há ainda um contingente considerável de pessoas com forte potencial para mergulhar na rede.

Evidente que isso depende em parte da expansão da oferta de banda larga pelo país. Um desafio que o governo federal tomou para si e que projeta para 2010 o ano da universalização.

O passo adiante para isso foi dado esta semana, com a polêmica parceria anunciada pelo ministro Hélio Costa, uma opção pelas empresas de telefonia que deixa de fora do acordo os cerca de 2.000 provedores de Internet em atividade no Brasil.

A governança eletrônica tende a ser a principal conquista do cidadão quando a TV digital deixar de ser privilégio de quem pode pagar pelo conversor de sinal e quando as ferramentas de interatividade plena forem de fato incorporadas a ele. Mas ainda vai depender da capacidade das emissoras de televisão de oferecerem o serviço.

Algo pouco provável no universo da TV comercial. O que pode ser um dos grandes diferenciais da TV pública em sua cruzada [SOLITÁRIA]em favor da conquista da cidadania.

Azar das comerciais. Mais hora/menos hora isso tende a se refletir na audiência. Quem souber demarcar este território, criará um tipo de vínculo com o telespectador que hoje não existe. E não se sabe que impacto pode ter sobre a lógica atual.