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07 DEZ 2006

Vint Cerf - Presidente do Conselho da Icann






Arquivo do Clipping 2006

Veículo: Gazeta Mercantil
Data: 07/12/2006
Assunto: ICANN

Ganhador do Prêmio Turing (reconhecimento equivalente ao Prêmio Nobel, para o campo das ciências da computação), o americano Vint Cerf, conhecido pela alcunha de "pai da internet", continua acompanhando as novas revoluções do mundo digital. Ele acredita que a censura de governo à web não funciona e que o celular será a grande ferramenta inclusão digital no mundo.

Ganhador do Prêmio Turing (reconhecimento equivalente ao Prêmio Nobel, para o campo das ciências da computação), o americano Vint Cerf, conhecido pela alcunha de "pai da internet", continua acompanhando as novas revoluções do mundo digital. Ele acredita que a censura de governo à web não funciona e que o celular será a grande ferramenta inclusão digital no mundo.

Cerca de três décadas após ter escrito junto com Robert Kahn os primeiros textos com o modelo teórico do que viria a ser a internet, Cerf agora atua como presidente do conselho da Icann (Empresa de Internet para Números e Nomes Registrados), órgão ligado ao Departamento de Comércio Americano e responsável pela administração e políticas de padronização da internet, além de ser há mais de um ano evangelista chefe da empresa de buscas Google, já um dos mais bem sucedidos subprodutos corporativos da onda de inovações trazidas pela web. Dentro da descrição de seu cargo na empresa está divulgar iniciativas da empresa, incentivar o uso da internet e visitar diferentes países.

Com Kahn, Cerf foi um dos criadores do protocolo TCP/IP, utilizado para o reconhecimento entre páginas e os computadores. Ele está em São Paulo, durante toda esta semana para a terceira reunião da Icann no ano - que acontece de forma alternada nos países. Cerf comentou que ao vir à cidade em 1975 conseguiu fazer na antecessora da internet, a Arpanet, a conexão entre computadores localizados aqui e em Nova York. "Não esperava que iria funcionar."

Entre os diversos temas que serão definidos pela Icann no Brasil estão o plano estratégico entre 2007 e 2011, e a renovação dos contratos referentes aos responsáveis por vender os domínios (terminação do nome das páginas da web) .org, .info e .biz. Na semana passada, foi renovado até 2012 o controle do .com pela americana Verisign. Um tema polêmico da semana envolverá o equilíbrio entre privacidade e informação pública, com a possibilidade da exigência de registro de informações pessoais do dono de cada domínio da internet. "Muitas pessoas acham que não deveria ser necessário se registrar para ter um domínio."

GAZETA MERCANTIL - Como um dos maiores pioneiros da internet, você gosta do conceito e do termo Web 2.0 (criado para designar as novas tecnologias e sites, como o Google, os compartilhadores de arquivos BitTorrent, a visualização de vídeos no YouTube, os jogos digitais como o Second Life)?

Vint Cerf - Web 2.0 é um termo de marketing. Uma boa estratégia que não há algo muito novo e quer chamar atenção a ela. Deixando isso de lado, o conceito em si é muito interessante. Se olhar para os protocolos que permitem essas inovações, tudo está voltado a resolver comunicações de negócios. E automatizar essas funções pode trazer grandes efeitos paralelos. Ela pode tornar as coisas mais rápidas, diminuir o tempo de resposta a pedidos. Ajuda a padronizar as comunicações.

GZM - Isso significa que a integração entre aplicativos e informações das empresas e usuários de informática poderá enfim existir e permitir o tráfego de dados mais livremente entre diferentes softwares?

Cerf - Eu tentei isso anteriormente, mas não fui bem sucedido com a EDI (electronic data interchange), nos anos 80. O problema era que tentava padronizar formulários digitais, confirmações, ordens. Mas cada setor padronizou seus documentos. E quando precisavam trocar informações tinham que observar cada padrão diferente. Espero que os padrões da web 2.0 sejam comuns a todos os setores.

GZM - Nós vemos hoje no mundo diversos países, como China, Arábia Saudita, Irã e Egito, tentando controlar o acesso dos seus cidadãos à internet e a informações que são consideradas por eles controversas. Isso deve continuar ou o caráter livre da internet vai criar saídas para as pessoas que quiserem burlar esses controles?

Cerf - As tentativas técnicas de controlar o conteúdo da internet não tiveram até hoje muito sucesso. A China é o exemplo mais comum e eles fizeram muito, pelo que eu sei, para controlar a internet. Mas eu acho que o mais significativo é que eles usaram as regras de negócios para tornar possível essas idéias de restrição. A (ferramente de busca da) Google foi o principal alvo dessas restrições. Disseram: você não pode mostrar essa informação porque não é considerada apropriada. E se você permitir respostas a essas pesquisas, irá violar as regras do país e nós vamos fechar a sua operação. Bem, se você está interessado em ficar no mercado, tem de seguir as regras. Quebrar a lei não é uma boa regra de negócio, então as empresas seguem essas exigências.

GZM - Além dos benefícios de negócios, para a Google, de estar na China, você acredita que aceitar essas condições será bom também para a população chinesa?

Cerf - A única razão pela qual eu estou confortável com isso - e eu não gosto de censura da informação - é que, se você realmente olhar o que realmente está sendo restrito, percebe que é apenas uma pequena fração de tudo que está disponível. Isso não significa, entretanto, que tudo está certo. O que significa é que estamos oferecendo informação apesar das restrições. E é melhor oferecer acesso a informação da melhor maneira que se pode do que não oferecer nenhuma informação. Mas francamente espero que um dia que a China se sinta mais confortável com a abertura. E a China não é a única preocupada em restringir a informação no mundo, aliás. Nós todos temos que viver esse processo, entender como equilibrar o compartilhamento de informações e a necessidade de proteger a sociedade.

GZM - Entre as atividades da Icann esta semana estão discussões nesta linha, não?

Cerf - Estamos discutindo ter um banco de dados, para sabermos quem registrou cada domínio (endereço de site na internet). Pode ser interessante porque os domínios já criaram um mercado de trocas. Por outro lado, muitos usuários da internet não gostam da idéia de serem forçados a divulgar quem eles são, só por terem registrado um domínio. É a privacidade contra a informação pública, uma questão não inteiramente resolvida.