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01 OUT 2010

Sem modelos prontos






ARede - 10/2010 - [ gif ]
Autor: Patrícia Cornils
Assunto: Internet

Não existem modelos prontos, mas há experiências interessantes em muitos lugares. O modelo de governança do Comitê Gestor da Internet (CGI.br) é uma referência para outros países não apenas porque os representantes da sociedade civil (11, de um total de 21 participantes) são eleitos, explica Demi Getsckho, um de seus integrantes. É a composição que diferencia o modelo brasileiro dos demais, porque a maioria dos participantes não é indicada pelo governo. “Isso é bacana porque não é razoável que um setor controle a internet, o ideal é o conjunto”, diz ele. Além disso, acrescenta, na maneira de funcionar do CGI.br, raramente se toma decisões pelo voto. “As questões são discutidas, amadurecidas, até se chegar a um consenso. Quando sai uma decisão, está todo mundo junto”.

Isso quer dizer que o Estado só pode implantar programas de inclusão digital a partir de demandas da sociedade? “Não, o Estado também precisa tomar iniciativas, criar os problemas”, explica Beatriz Tibiriça, do Coletivo Digital. Sem experiências como as que o Brasil já realizou nesse segmento, sequer a discussão sobre participação seria possível, observa ela.

Mesmo na formação dos monitores dos telecentros, para atuarem como agentes de inclusão digital e mediadores do espaço com a comunidade, é preciso dar passos mais largos. Um monitor do telecentro só pode virar agente de inclusão digital quando participa dos processos de gestão do espaço, observa Dalton Martins, um dos articuladores do polo nacional da rede de formação do programa Telecentros.BR. E isso vale em todos os níveis dos projetos, “na sua direção, nas comunidades, em conselhos gestores”, acrescenta ele. “Se existe uma dimensão de discussão e uma instância de tomada de decisão, aquele espaço tem possibilidade de se apresentar. Do contrário, os espaços (de inclusão digital) vão sempre cair na dimensão do acesso ou das oficinas, o monitor apenas vai reproduzir as ações do programa. Os desejos e crenças das pessoas que vão ali, ou que poderiam ir, serão barrados pelas fronteiras dos procedimentos burocráticos”, constata.

Para Martins, os governos implantam políticas dessa forma, em vez de formar pessoas para pensar na autonomia dos espaços: “Quando se pensa em autonomia, é apenas da perspectiva financeira. Não se considera as possibilidades de ação de governança eletrônica, webcidadania, etc.”. Além disso, observa ele, os governos não dão conta de fazer gestão de seus programas de forma participativa, não têm dados atualizados e confiáveis sobre o desempenho dos projetos, ou lidam somente com dados mais fáceis de coletar. E a circulação de informação é fundamental para o aprimoramento desses projetos. “A rede acaba onde há escassez de informação. A rede morre onde pára a conversa”, avalia.

A necessidade de gerar dados mais confiáveis para avaliar o desempenho dos programas e rever sua forma de atuação faz parte de vários projetos em andamento. Bernadete vai implementar, em parceria com o Programa de Inclusão Sóciodigital da Bahia, um telecentro no qual tentará dar resposta às questões levantadas por seu estudo. “E então vamos avaliar se, assim, conseguimos uma resposta efetiva”. O Gesac, programa do Ministério das Comunicações, criou um projeto de formação de monitores que vai funcionar, também, como uma pesquisa de uso e funcionamento desses espaços. Além de formar 738 monitores, o projeto tem por finalidade avaliar cada passo – desde a escolha das pessoas, a definição do conteúdo, o funcionamento dos conselhos gestores, o aprendizado dos participantes – e deixar os dados dessa avaliação abertos, à disposição de outros projetos.

“Inclusão digital é um tiro curto, de cinco anos”, constata Elias Nagib David, coordenador do projeto. Ele se refere à expansão da banda larga e ao barateamento de equipamentos e serviços de tecnologia da informação, que por si só vai abrir a mais brasileiros as portas para o uso das TICs. “O foco do governo vai ter que ser a formação: como levar o conhecimento para as pessoas fazerem bom uso da rede”, prevê Elias.

Quem pode indicar quais os recursos necessários para uma boa formação são, de novo, as pessoas que trabalham com as comunidades, onde esse trabalho é ativo. “São os representantes locais que dão vida aos espaços, que sabem o que fazer com eles e são os que seguram as pontas quando o governo deixa de apoiar os projetos”, diz Dennie Fabrizio, do Projeto Puraqué, que coordena a Casa Brasil e faz parte do Ponto de Cultura Digital do Oeste do Amazonas.