NIC.br

Ir para o conteúdo
07 AGO 2017

NIC.br começa a cobrar por participação no PTT de São Paulo; operadoras questionam critérios


Teletime - 04/08/2017 - [gif]


Autor: Bruno do Amaral e Samuel Possebon
Assunto: Recuperação de custos do IX.br de São Paulo

A partir da próxima segunda-feira, 7, o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) começará  a cobrança pela interligação para os sistemas autônomos (AS) no ponto de troca de tráfego de São Paulo, o IX.br (antes chamado de PTTMetro). A ideia é conseguir recuperar custos operacionais da infraestrutura (Opex) – até então totalmente bancada com recursos do próprio NIC.br -, mas mantendo os investimentos normais de Capex para futuras ampliações. No entanto, há empresas insatisfeitas com a cobrança, especificamente operadoras. Tanto que o SindiTelebrasil enviou documento questionando "alguns pontos", impasse que o NIC.Br espera resolver em uma reunião também na semana que vem, informa o IX.Br.

De acordo com o gerente de engenharia do IX.br, Júlio Sirota, o questionamento está sendo analisado pela diretoria do NIC.br e será respondido. "Estamos abertos a negociações e para conversar", declarou ele durante webconferência para tratar do assunto na quinta-feira, 3. Ele diz que o assunto não é novo: um grupo de operadoras foi procurado no final do ano passado, antes de a entidade fazer anúncio da tabela de preços e formalização da cobrança. "Na época, colocaram questões principalmente da parte jurídica, contratual, para discutir cláusulas. Infelizmente não tivemos muito tempo para fazer essa rodada de discussões com eles e ter um processo um pouco mais tranquilo", declarou depois, em entrevista a este noticiário. Ele acredita que a reunião com o SindiTelebrasil deverá ocorrer na próxima semana, a depender da disponibilidade das empresas.

Este noticiário apurou que o principal questionamento das teles é a razão pela qual o PTT começará a ser cobrado e que custos extras estão demandando novos recursos, já que era uma das atividades previstas pelo próprio NIC.Br, que conta com orçamento para isso. A empresas alegam que no final do ano passado pediram esclarecimentos e não receberam informações, sendo que a cobrança começa no dia 15 de agosto (data de vencimento do boleto). Também não há clareza, para as teles, na definição dos valores entre os diferentes usuários do PTT. Outro aspecto questionado é sobre os planos de contingência na operação do PTT caso alguém resolva se desconectar, sem prejuízo das demais, e que pleno conhecimento da lista de de sistemas que permanecerão conectados e aqueles que irão declinar de participar. Até lá, o SindiTelebrasil pede a suspensão da cobrança. Procurado, o sindicato das teles não quis se pronunciar.

O gerente de engenharia do IX.br diz que, em geral, houve número baixo de questionamentos, sendo o único formal feito pelo SindiTelebrasil. "Em dezembro do ano passado, conversamos com Abrint, Abranet, principais CDNs e com operadoras. Não fizemos processo de iniciar a cobrança sem consultar a comunidade", afirma.

Há ainda um "número baixo" de sistemas autônomos que pediu correções nas informações apresentadas. Isso porque muitos migravam para portas de maior capacidade (de 1 GB para 10 GB, por exemplo), mas esqueciam a menor ligada. Assim, o IX.br precisa lidar com transceivers, VLANs e outros equipamentos para manter a porta. A ideia também é que, a partir do início da cobrança, os sistemas passem a solicitar o desligamento de portas que já não usam, resultando em ganho na eficiência operacional para o NIC.br. "A gente vai conseguir ter uma rede mais enxuta."

O orçamento do projeto PTTMetro nos últimos cinco anos é da ordem de R$ 20 milhões por ano, sendo que apenas o de São Paulo é de R$ 15 milhões. O que se espera cobrir são as despesas operacionais de R$ 5,75 milhões anuais, com funcionários, energia elétrica e aluguel, por exemplo. A recuperação feita agora tem rateio em função das localidades. O NIC.br também espera, dessa forma, realizar melhorias no atendimento do IX.br, contratando mais pessoas e ampliando o número de cidades onde opera. O processo é inicialmente com o ponto de São Paulo, mas a promessa é de começar a trabalhar no PTT do Rio de Janeiro tão logo seja implantado na capital paulista. "Muito provavelmente os custos no Rio de Janeiro vão ser mais baixos, porque a infraestrutura e o custo operacional é menor, apesar de ter menos participantes para fazer rateio", diz.

Justificativa

A justificativa do NIC.br para a cobrança é que a questão da recuperação dos recursos não é para cobrir gastos já feitos, mas para tornar a operação autossustentável. "É muito mais preocupação da administração do NIC no sentido que o projeto ganhe uma amplitude e cria uma dependência muito grande", diz Júlio Sirota. Explica ainda que as preocupações da administração têm de ser com "coisas imponderáveis" e que, como não é uma empresa constituída como os grandes PTTs da Europa, é preciso ter capacidade de sustentabilidade "para que, numa eventualidade de mudança de conjuntura, não haja ruptura".

O preço cobrado (confira a tabela acima) varia de R$ 115/mês a R$ 5.520/mês e, segundo a entidade, representa cerca de um quarto do que é necessário para a operação toda do IX.br – e um quinto do que cobram nos pontos de troca de tráfego europeus. Ainda assim, é um custo recorrente para grandes empresas, o que é um dos pontos questionados. "Mas se for comparar quanto custa um transporte de 1 GB que essas operadoras cobram dos ISPs versus o preço que cobramos para a conexão, então o valor é baixo, mas isso depende da análise da cadeia de valor", declara Sirota.

O NIC.br não está trabalhando com descontos, pelo menos a princípio. E a metodologia seguiu um "modelo mais simples possível, sem desconto por quantidade". Segundo Sirota, isso beneficiaria grandes empresas e CDNs, que poderiam pagar mais. E as empresas que discordarem da prática podem pedir a desconexão. "Não é o que a gente gostaria que estivesse acontecendo, queremos cada vez mais AS trocando tráfego com a gente, mas se é isso, não temos outra alternativa", explica.

Há também a captação de receita baseada no registro de domínios, que é pago em reais e ficou 13 anos com um valor fixo, sofrendo reajuste apenas no início de 2017. Ainda que o aumento nos pedidos de registro tenha acontecido nesse período, teria sido um crescimento linear e lento, "muitos anos abaixo da inflação". Por outro lado, os custos do IX.br estão atrelados ao dólar, com alta demanda de equipamentos. (Colaborou Samuel Possebon)