NIC.br

Ir para o conteúdo
06 ABR 2018

Facebook começa a tomar medidas para aumentar a transparência


Blog Porta 23 - 05/04/2018 - [gif]


Autor: Cristina de Luca
Assunto: Seminário “Desafios da Internet no Debate Democrático e nas Eleições”

No mesmo dia no qual anunciou que o alcance da atuação da Cambridge Analytica foi maior do que o estimado inicialmente, envolvendo 85 milhões de usuários, em vez de 50 milhões, incluindo 400 mil brasileiros, o Facebook também começou a divulgar uma série de medidas que pretende tomar para dar mais transparências às suas práticas de uso de dados dos usuários para oferta de publicidade segmentada.

Em seminário realizado pelo Comitê Gestor da Internet nesta quarta-feira, 4/4, para colher subsídios para a elaboração de um guia de boas práticas para a Internet no processo democrático e nas eleições, Mônica Rosina, gerente de Políticas Públicas do Facebook Brasil, afirmou que a empresa tem trabalhado dia e noite para trazer tornar essas medidas efetivas no país. E citou, entre elas, medidas para aumentar a transparência dos anúncios, especialmente em períodos eleitorais.

“Já estamos testando no Canadá uma série de ações no sentido de tornar os anúncios mais transparentes. Lá já é possível visualizar todos os anúncios que uma determinada página impulsionou. Eu não vou só enxergar informações sobre os anúncios direcionados à mim, mas todos os anúncios feitos por aquela página, saber quem está por trás do impulsionamento e, nos Estados Unidos a gente já está trabalhando para fazer um disclosure de valores relacionados aos anúncios”, comenta Mônica.

Também nesta quarta-feira, 4/4, o Facebook anunciou mudanças nos Termos e Políticas de dados da plataforma para, segundo a rede social, deixar mais claro para as pessoas como seus produtos funcionam.

“Hoje estamos anunciando uma série de medidas no sentido de dar mais controle aos usuários, de dar mais transparência a que tipo de dados estão ou não estão sendo fornecidos a terceiros”, explica Mônica. Isso vale para anunciantes e desenvolvedores. Todos os aplicativos que rodam na plataforma, segundo Mônica, estão passando por auditoria. Os aplicativos que se recusarem vão ser banidos da plataforma. E aqueles inativos a mais de três meses deixarão de ter acesso a dados.

Além disso, os controles disponíveis para os usuários vão ser muito mais visíveis do que já eram. “E um anúncio que a gente acabou de soltar é que todos os afetados pelo uso indevido de dados feito pela Cambridge Analytica serão notificados pelo Facebook e lembrados a rever todas as configurações de privacidade na rede social”, disse ela.

De fato, o Facebook que começará a alertar quem teve seus dados coletados a partir da próxima segunda-feira, dia 9 de abril. Também disponibilizará um link no topo do feed de notícias de cada usuário para ajudá-los a compreender quais aplicativos têm acesso a seus dados. E prometeu fazer mais mudanças nos próximos meses.

“Eu realmente acredito que a gente tem condições de dar mais transparência e proteger a prinacidade dos nossos usuários. Acho que estamos no caminho certo”, afirmou Mônica.

Uma das medidas anunciadas nesse sentido está no uso do login social, que tanto tem preocupado os usuários desde que o escândalo da Cambridge Analytica foi tornado público. Há duas semanas, o Facebook anunciou mudanças importantes no Facebook Login. Desde ontem, a rede social precisará aprovar todos os aplicativos que solicitem acesso a informações como check-ins, curtidas, fotos, publicações, vídeos, eventos e grupos.

A rede diz estar tornando o processo de análise mais rigoroso, solicitando que os aplicativos concordem com rígidos requisitos antes que possam acessar os dados. “As pessoas não poderão mais conceder aos apps acesso a informações pessoais, incluindo crenças religiosas ou políticas, status e detalhes de relacionamento, listas personalizadas de amigos, histórico escolar e profissional, atividades físicas, de leitura e musicais, leitura de notícias, hábitos de assistir a vídeos e de acesso a jogos”, afirma a rede social.

E foi removida a funcionalidade que permitia fazer busca de usuários pelo número de telefone ou endereço de e-mail. Isso, segundo a empresa, estaria sendo usado por agentes mal-intencionados para capturar informações de perfil que estavam públicas.

“Dadas a escala e a sofisticação da atividade que observamos, acreditamos que a maior parte dos usuários do Facebook pode ter tido seu perfil público capturado dessa forma”, afirmou a empresa em nota. “Então desabilitamos essa funcionalidade.”

Todas as aplicações de terceiros que usam a API “Groups” vão precisar da aprovação da Facebook e de um gestor para garantir que são benéficos aos grupos. As aplicações deixarão de poder acessar a lista de membros dos grupos. A empresa também removerá informações e conteúdos pessoais, como nomes e fotos de perfil, anexadas a publicações ou comentários, a que aplicações aprovadas possam acessar.

As aplicações capazes de “ler” comentários em publicações usando a API “Pages” também precisarão de aprovação por parte da empresa. A API “Instagram” está suspensa, com efeito desde a última quarta-feira. Serão excluídos do Messenger e Facebook Lite usados nos dispositivos Android, os históricos de chamadas e mensagens dirigidas aos usuários. E a não será mais guardada a hora das chamadas. E desde a semana passada as “Partner Categories”, para parceiros, que permitia a fornecedores de third-party data oferecer segmentações de consumidores diretamente na rede social, estão inoperantes.

Além disso, rede social decidiu mostrar que aplicações se conectaram à sua plataforma e aos dados por elas partilhados. A Facebook considera que isso dará aos usuários maior controle sobre as aplicações. “A partir de segunda-feira, 9 de Abril, mostraremos às pessoas um ‘link’ na parte superior do seu fluxo de notícias com o qual poderão ver que aplicações usam e as informações compartilhadas com elas”, explica a Facebook. As pessoas também poderão remover aplicações, confirma.

Mudanças nos Termos e Políticas
Também entre as mudanças anunciadas nesta quarta-feira, estão compromissos assumidos pela rede social com seus usuários, incluídos em mais uma grande atualização dos Termos e Políticas da plataforma.

Vale dar uma olhada, porque nos próximos sete dias, os usuários poderão fornecer seu feedback sobre os Termos e a Política de dados.

Há mudanças em relação a:

– Experiência personalizada: a experiência de todos no Facebook é única e a rede diz estar detalhando como isso funciona. “Explicamos como usamos os dados para personalizar as publicações e os anúncios que você vê, bem como os Grupos, amigos e páginas que sugerimos”.

– O que a rede compartilha: a rede se compromete a nunca vender nossas informações para ninguém. “Temos a responsabilidade de manter as informações das pessoas seguras e protegidas, impondo restrições rigorosas sobre como nossos parceiros podem usar e divulgar dados. Explicamos todas as circunstâncias em que compartilhamos informações e tornamos mais claros os nossos compromissos com as pessoas”.

– Publicidade: segundo a rede social o usuário tem total controle sobre os anúncios que vê e ela não compartilha as informações dos usuários com os anunciantes. “Nossa política de dados agora explica mais sobre como decidimos quais anúncios mostrar para você”.

– Integração de serviços: o Facebook faz parte da mesma empresa como WhatsApp e Oculus. “Explicamos como compartilhamos serviços, infraestrutura e informações. Também deixamos claro que o Facebook é a entidade corporativa que fornece os serviços do Messenger e do Instagram, que agora usam a mesma Política de Dados”.

– Informações do dispositivo: “As pessoas pediram para ver todas as informações que coletamos dos dispositivos que elas usam, e perguntaram se respeitamos as configurações no seu aparelho (a resposta é: sim). Também adicionamos mais detalhes sobre as informações que coletamos quando você sincroniza seus contatos com alguns de nossos produtos, incluindo o Histórico de chamadas e SMS”.

– Identificando comportamentos prejudiciais: o Facebook se compromete a explicar melhor como combate abuso e investiga atividades suspeitas, inclusive ao analisar o conteúdo que as pessoas compartilham. “Por exemplo, no ano passado, anunciamos grandes investimentos em inteligência artificial e aprendizado de máquina para encontrar e remover com mais rapidez conteúdos que violam nossas políticas”.

Liberdade de expressão e controle editorial algorítmico
Sobre esse último ponto, diretamente relacionado ao combate à disseminação de discurso de ódio e fake news na rede social, Mônica explicou durante o seminário do Comitê Gestor que o Facebook tem investido muito em Machine Learning para identificar esses conteúdos, como um trabalho complementar ao feito com parceiros de fact-checking.

“Esperemos poder trazer a iniciativa de checagem de fatos para o Brasil em breve”, promete Mônica.

Segundo ela, diante do volume de conteúdo postado diariamente pelos 122 milhões de brasileiros ativos no Facebook, é necessário que a checagem de fatos seja complementada por Machine Learning, por que é impossível checar tudo o que é publicado.

“Esse conjunto se retroalimenta de forma positiva”, diz ela. “Quando a plataforma, por meio de Machine Learning, identifica sinais que nos dão indicativos que a notícia pode ser falsa, a gente canaliza esse conteúdo para a agência de checagem. E sempre que a máquina acerta, aponta o que é falso, o algoritmo vai melhorando. É claro que a gente vai errar muito nesse processo. Mas é um caminho”.

O algoritmo, segundo Mônica, já caminha para classificar notícias de baixa qualidade. Como ele faz isso? Olhando para uma série de sinais como comentários, likes, etc. Conforme as parcerias vão sendo construídas com as empresas de fact-checking, o algoritmo vai aprendendo melhor quais sinais considerar. Quais sinais, de fato, têm maior probabilidade de estar relacionados com notícias falas e quais não.

“A gente vais errar? Vai. Mas a gente também não pode só se basear na checagem por que são 2.2 bilhões de pessoas interagindo diariamente na plataforma. É um desafio, concordo, mas a gente está tentando ir por esse caminho. Não sei dizer se vamos ter sucesso. Mas temos que tentar”, comenta Mônica.

Ah, importante: também ontem o Facebook anunciou que o volume de pessoas contratadas pela rede social para fazer moderação de conteúdos postados na rede subiu de 10 mil para 15 mil e a ideia, segundo Mônica, é passar a ter 20 mil nos próximos meses.