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05 DEZ 2006

Brasil quer internet internacional






Arquivo do Clipping 2006

Veículo: O Estado de S. Paulo
Data: 05/12/2006
Assunto: ICANN São Paulo

Icann, que coordena os endereços da rede, faz reunião em São Paulo e tenta mostrar mais distância dos EUA

Vinton Cerf, chamado de pai da internet, estava rouco ontem. "Temos uma agenda de discussão muito ambiciosa", afirmou Cerf, criador do protocolo da internet, tecnologia que permite computadores diferentes se comunicarem entre si, vice-presidente do Google e presidente da diretoria da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), entidade que coordena a internet. A Icann iniciou um de seus três encontros anuais no sábado, em São Paulo. O evento vai até sexta.

Com a reunião do Brasil, a Icann busca mostrar maior abertura e internacionalização. "A Icann é uma organização internacional, com participantes múltiplos", afirmou o australiano Paul Twomey, presidente da entidade, ligada ao Departamento de Comércio americano. Em setembro, a Icann assinou um memorando de entendimento com o departamento em que reduziu os mecanismos de controle, mas, mesmo assim, o governo americano continuou a ter poder de decisão sobre assuntos importantes. "O memorando de setembro faz parte de um movimento que começou com o governo Clinton, em 1998", apontou Twomey.

"A Icann precisa se tornar uma ONG internacional, e deixar de ser uma ONG californiana", afirmou Rogério Santanna, secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e conselheiro do Comitê Gestor brasileiro. "Houve um retrocesso sob o governo Bush."

Há pelo menos dois anos o Brasil briga, na Organização das Nações Unidas (ONU), por mudanças na governança da internet. O País defende um controle internacional, mas, mesmo dentro do governo, não existe consenso sobre qual seria a melhor saída.

Um grupo considera que o melhor seria se a União Internacional de Telecomunicações (UIT), da ONU, ficasse responsável por coordenar a rede mundial. O problema é que a UIT é uma entidade em que a decisão fica por conta dos governos, e não tem a característica de participantes múltiplos que busca a Icann, que também ouve a iniciativa privada e o terceiro setor. Além disso, a UIT é bem mais lenta e burocratizada que a Icann, podendo levar alguns anos para tomar decisões.

Outro grupo prefere o que chamam de uma "solução minimalista", que seria desligar a Icann do Departamento de Comércio americano e torná-la mais internacional, como o Fórum de Governança da Internet (IGF, na sigla em inglês). "O conselho da Icann já é bastante independente", afirmou Augusto César Vieira Gadelha, secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia. "O problema é que essa independência não está garantida, por escrito, em nenhum documento. A governança da internet precisa estar nas mãos de uma entidade com representantes do mundo inteiro."

Em junho, havia 105 milhões de domínios registrados no mundo, sendo 50 milhões com final .com, segundo dados da VeriSign, responsável por administrar os finais .com e .net. O sufixo .br, usado no Brasil, ficou em décimo lugar entre os nomes de domínio de países. Em outubro, o total de endereços registrados com final .br chegou a 1 milhão. Existem mais de 1 bilhão de internautas no mundo. No Brasil, são 42,5 milhões.

Ken Silva, diretor de segurança da VeriSign, é o responsável por manter em operação os endereços .com e .net em todo o mundo. Neto de portugueses, Silva visitou o Brasil pela segunda vez, para participar do encontro do Icann. "Temos 25 servidores raiz em todo mundo, sendo dois em São Paulo", afirmou o executivo, referindo-se aos computadores que armazenam a estrutura de endereços da internet.

Para garantir a segurança da internet, o executivo apontou que os governos devem incentivar as melhores práticas. Apesar de vários países estarem discutindo leis para identificação de usuário, Silva acredita que não é o momento de se impor uma exigências. "Muita regulamentação pode afastar as pessoas", disse o executivo. O Senado brasileiro chegou a discutir no mês passado um projeto de lei que tornava obrigatória a identificação do internauta, mas acabou tirando-o de pauta devido à polêmica que gerou.