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16 OUT 2017

Acesso à internet por crianças e jovens exige controle, segundo especialistas


A Tribuna - 12/10/2017 - [gif]


Autor: Carolina Iglesias
Assunto: Indicadores Cetic.br

Oito em cada dez crianças e adolescentes, com idades entre 9 e 17 anos, usam a rede

Brasil é hoje o quarto país com maior número absoluto de usuários de internet, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, Índia e China, conforme levantamento divulgado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). E o acesso à rede tem crescido, principalmente entre os mais jovens. 

No País, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), oito em cada dez crianças e adolescentes (82%) com idades entre 9 e 17 anos, o que representa cerca de 24,3 milhões, usam a rede.  E o uso de equipamentos móveis para acessar a internet é quase predominante nesta faixa etária. Estima-se que 91%  tenham utilizado smartphones para navegar na internet no último ano. Em 2012, essa proporção era de 21%. 

E com essa geração conectada cada vez mais cedo, dosar o uso dessas tecnologias a outras experiências torna-se um verdadeiro desafio para os pais. Afinal, com tantas facilidades de acesso à rede, como educar os chamados “nativos digitais” sobre o uso seguro e cidadão da internet?  

Para o advogado e professor da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Danilo de Oliveira, o dever de fiscalizar e orientar esses jovens sobre o uso da rede com segurança não deve se restringir aos pais. É dever também da sociedade e do Estado cuidar desses novos usuários. 

“Eles têm aquela característica que o próprio Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) reconhece, que é a condição especial de pessoa em desenvolvimento. São pessoas que ainda não tem discernimento de certo e errado”. 

Dados do Cetic.br indicam que 32% das crianças e jovens acessam a internet em deslocamento. O que reforça ainda mais a importância do diálogo entre pais e filhos sobre situações de perigo, principalmente no que se refere à sexualidade. 

“Muitos acreditam que o mundo virtual não é real. Os jovens hoje criam uma espécie de avatar, que até se difere da própria vida. Porém, há uma série de efeitos negativos que decorrem dessa diferenciação entre real e virtual”, comenta o advogado, que destaca, por exemplo, a superexposição dos nativos digitais, que mesmo com tantas habilidades com a tecnologia, não têm uma capacidade crítica, de reflexão, a respeito de seus atos no ambiente virtual. 

“São muitos os riscos. Eles vão desde a ordem patrimonial, como a exposição de documentos, às vezes dados bancários, até ameaças à própria vida. Crianças e adolescentes que acabam cometendo suicídio, se mutilando, expondo sua intimidade de alguma maneira. São prejuízos irreparáveis. Por isso, é preciso muito cuidado”, ressalta.   

Na visão do especialista em redes de computadores e internet, Cláudio Nunes, restringir o acesso de crianças a determinados conteúdos é uma boa opção para os pais. No entanto, os controles parentais adotados na infância, muitas vezes, não funcionam para os adolescentes. Após os 10 anos, segundo ele, o melhor caminho ainda é o do diálogo aberto e transparente.  

“Existem hoje softwares que limitam o acesso a determinados conteúdos e até mesmo o tempo de navegação em smartphones. O problema é que os pais, de maneira geral, sempre estarão em desvantagem no quesito tecnologia. Quando criam bloqueios, se os filhos quiserem, conseguem burlar essas restrições”, comenta. 

Ainda conforme o especialista, as ferramentas de gestão em controle evoluíram muito, também para atender a essa nova necessidade de múltiplos dispositivos conectados. O problema, segundo ele, é que hoje todo mundo anda com celular com internet no bolso. “Por isso, essas ferramentas só resolvem parte do problema”.  

Para Nunes, ainda que os pais respeitem a privacidade dos filhos, a fiscalização do acesso à internet é fundamental. “O que vale é aquilo que os pais devem fazer para além da tecnologia, é todo um trabalho de orientação. É exatamente como no passado, quando nossos pais nos mandavam para a rua e pediam para que não aceitássemos nada de estranhos. Esse trabalho da conscientização, do diálogo, é mais efetivo do que a própria restrição”.  

Discriminação na internet 

Em sua quinta edição, a pesquisa TIC Kids Online Brasil revelou que 41% dos usuários de internet, cerca de 10 milhões de crianças e jovens, já declararam ter visto alguém ser objeto de discriminação da internet. O contato com conteúdos de natureza agressiva na rede, de acordo com o levantamento, é maior entre meninas (45%) e adolescentes entre 15 e 17 anos (53%). 

Entre os principais motivos de discriminação identificados estão: cor ou raça (24%), aparência física (16%) e o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo (13%). Uma parcela menor (7%) afirma ter se sentido pessoalmente discriminada na rede – o que representa 1,7 milhão de crianças e adolescentes usuários de internet.

A psicóloga e pedagoga Flávia Henriques, do Departamento de Apoio Pedagógico, Psicológico e Social (DPS) da Universidade Católica de Santos (UniSantos), defende que a discussão sobre o uso seguro da internet entre esse público ocorra em conjunto, envolvendo os pais e também a escola. 

“O acesso à internet hoje está muito mais fácil, porque o celular está com a gente o tempo todo. O problema é que isso também facilita o acesso a outras coisas. A família tem que informar essas crianças do perigo que é falar na internet sobre a vida pessoal. Hoje em dia, todos querem ser YouTubers e, com isso, acabam colocando toda a vida dentro dos filminhos. Quanto menor a criança, menor é o seu entendimento. Por isso, o diálogo é fundamental”. 

Em âmbito escolar, ela salienta a importância das discussões a respeito do cyberbullying. “É preciso falar sobre o tema. A conversa sobre essa questão tem que ser constante. O bullying acarreta uma série de problemas e na internet o efeito disso é ainda mais devastador”.